- Capítulo III –
Alexis que até ao momento tinha estado distraído entre os seus pensamentos da caçada, arrebatou-se naquele momento
pelo acto repentino de Rave, colocando-se automaticamente em alerta. O jovem
que tinha se demonstrado até ao momento como um rapaz imaturo e dócil, transformou-se em segundos num guerreiro desembainhando também
duas espadas curtas dando as suas costas a Rave.
- Não temos muito tempo, são pelo menos sete elementos, pelo modo como caminham são assassinos, se ficarmos nesta posição
defensiva vamos morrer os dois. Vamos ter de nos mexer e em sentidos opostos. O
que quer que aconteça não hesites. Vai! – Grita Rave no momento em que uma
foice projectada passa rente ao seu pescoço. Por entre os arbustos salta um guerreiro
de negro e de rosto vendado empunhando dois manguais de correntes longas
rodopiando-as com agilidade. Rave com o pensamento na criança que estava
cercada por assassinos não conseguia se focar no adversário, quando julgava que a tarefa estava complicada juntaram-se mais
dois a ele. Escutava o fôlego de Alexis a cerca de dez metros de si, mas não se atrevia a desviar o olhar, meio segundo poderia ser fatal. Desarmando
um dos assassinos trespassou-o pela garganta. Com um pontapé afastou outro
rapidamente a tempo de remover a espada, agilmente deslizou o seu corpo pelo chão húmido proferindo um golpe letal no estômago de outro
assassino. Alexis debatia-se agilmente contra um dos guerreiros de Hazindor, não teria tido tempo para estar nervoso, para pensar na morte,
sobrevivia através do instinto que Rave lhe teria legado. Tinha sido apanhado
de surpresa e estava a ser surpreendido pela revelação da sua força. Um som de outro guerreiro sendo morto pelas espadas de
Rave distraiu por um momento a sua atenção, erro esse que lhe custou um golpe profundo na
perna esquerda. O ferimento obrigou-o a recuar combalido em dores a que não estava habituado. O assassino investiu furiosamente para o matar.
Mantendo a calma, Alexis desvia o golpe com a sua espada e crava a segunda arma
directamente na garganta do seu adversário. Lentamente observa aterrorizado a vida se
esvaindo daquele corpo. Perante o terror que o assombrava através daquele olhar
um segundo assassino se existisse teria sido letal, mas naquele momento estavam
todos mortos e Rave já limpava as suas espadas observando-o um tanto preocupado,
a emboscada teria sido um teste excessivo ao seu discípulo, não teria
segundas oportunidades, mas ele tinha passado com distinção.
- Matei um homem? – Comenta ele em estado de
choque…
- Sim… e não será o último certamente. Vamos tratar desse ferimento.
Os monges teriam deixado o mosteiro a mais de cem
anos, as histórias mencionavam que teriam sido assassinados
durante a noite. O assombro do espaço mantinha a descrição e servia de refúgio ao assassino de Hazindor. Preparando água quente e ervas medicinais observava Alexis ainda combatido,
sentado sobre o chão, observando o sangue esvair-se do seu corpo
lentamente.
- Se eles vieram até cá, quer dizer que o Lord Erakis está morto e
um dos filhos apoderou-se da liderança. Ele estava doente há anos. Devido ao seu estado os filhos tornaram-se rebeldes sendo
constantemente envenenados por algumas cobras que anseiam por atacar Vallars.
Entre eles e Vallars existo apenas eu que sempre fui leal a Erakis.
- O que vamos fazer?
- Tu vais te esconder no bosque até essa perna
sarar. Eu vou até Hazindor, os quantos homens terão de
morrer, caso contrário vamos presenciar a maior guerra dos últimos duzentos anos. Há quatro anos atrás o lorde
Erakis recebeu uma notificação para uma aliança de todos os reinos do norte numa
investida contra Vallars, na altura ele recusou a aliança e mesmo sem Hazindor
eles avançaram com a guerra que iniciou-se junto as
muralhas. Foram derrubados em Vallars na primeira batalha em campo aberto.
Penetrando nas terras do norte Vallars conduziu o seu exército, mas o terreno
selvagem a que não estão habituados tem vindo a reverter os resultados. O
rei Falcon deseja mais do que algum dos seus antecessores alguma vez desejou,
tomar o controlo do norte. Eles foram sempre imbatíveis no sul, mas se Hazindor se juntar à guerra talvez as coisas
mudem.
- Mas os assassinos não são guerreiros de campo aberto, são individualistas, actuam em pequenos grupos, não usam armaduras nem escudos.
- Sim, mas estudaram todas as artes de guerra nos últimos dois mil anos, e nunca perderam uma batalha, vinte mil homens
de Vallars padeceram frente aquela fortaleza.
- Mas em campo aberto? Em Vallars?
- Os reinos não estão habituados a combater numa só força unificada, os selvagens de Kombalin não tem sequer qualquer noção de estratégias de guerra, lutam por impulso. A minha
esperança é que entre alguns desentendimentos eles nunca se unam.
- Por vezes parece que estás a favor de Vallars!
- Não estou a favor de ninguém, estou a favor de um
futuro, se esta guerra persistir nenhum de nós o terá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário