- Capítulo II –
Hazindor, fortaleza do Lorde Erakis dos reinos do
norte…
Nostrus Erakis amanhecia morto no seu leito, o velho
líder teria tentado corrigir o percurso sangrento que
os seus antecessores teriam gerado durante os últimos
séculos. Sem depositar a sua confiança nos seus dois filhos, uma carta teria
sido enviada com uma ordenança de um novo Lorde, que pudesse garantir a paz
entre os reinos, mas a carta nunca chegou ao seu destino e antes que o corpo de
Nostrus arrefecesse, os dois irmãos gémeos disputavam a liderança do clã Erakis num duelo mortal diante do templo de pedra, elevado pela
dinastia da família. Hazindor era o templo da ordem dos assassinos,
guerreiros lendários, exímios na arte da espada e todas as lâminas. Os
registos históricos descreviam uma batalha em que Vallars teria
tentado tomar a fortaleza há duzentos anos atrás. Vinte
mil soldados do reino do sul perderam a vida naqueles vales e montanhas que se
estendiam por todo reino, nenhum deles conseguiu penetrar em Hazindor.
Os irmãos permaneciam imóveis sobre
aquele palco de pedra de espadas leves e cortantes em punho sobre o silêncio
aterrador e expectante dos seus generais e ministros. Sentiam o bater dos corações acelerado como um só som que se fundia numa marcha de emoções. Num movimento rápido avançaram em simultâneo embatendo as espadas
num tilintar reluzente. Desferiam golpes de uma forma elegante e rápida, verdadeiros príncipes guerreiros em busca de um trono a qualquer
preço.
Kastus estremeceu quando a lâmina da sua espada
trespassou o corpo do seu irmão, sentiu a lâmina dentro si como se fosse a sua própria carne, numa agonia fria sem remorsos removeu a espada do corpo
sem vida sobre uma saudação calorosa dos seus generais.
Horas mais tarde, o general Drakon que em tempos
teria sido seu mentor entrava nos seus aposentos, um homem robusto de estatura
alta e cabelo grisalho, entre cicatrizes e rugas transparecia o peso do tempo.
- Lord Erakis! A ordem foi dada, os assassinos
confirmarão a morte de Rave Isakiel até o final do próximo dia, a ordenação estava destinada a um pequeno mosteiro junto aos bosques
de Jak, com certeza é lá que ele se esconde.
- Ele foi o escolhido do meu pai para liderar,
enquanto estiver vivo eu não me sentirei sossegado. Você compreende general,
ele seria outro covarde como o meu pai foi. A grandeza de um povo não é contada pela perseverança da paz, mas sim pelo marco histórico das suas batalhas. O nosso povo dedicou os últimos dois mil anos à arte da guerra, de tal forma que somos os
melhores do mundo a manifestar essa arte, não seremos
mais mercadores de mercenários ao mandato dos outros reinos. Levaremos a
nossa guerra a Vallars.
- Eu estarei do seu lado meu senhor, pela vida e
pela morte.
Kastus mostrou satisfação perante o apoio dos seus conselheiros, guerreiros de todas as idades
aguardavam ansiosos pelo retorno das batalhas. Kastus preenchia de uma forma
perfeita o desejo que aguardavam. Um jovem soberano facilmente influenciável.
O dia amanhecia alugares entre os bosques de Jak,
um veado pastava atento à natureza perigosa que envolvia os misteriosos
bosques, como uma sombra invisível Rave movimentava-se por entre as árvores e arbustos. Os caçadores que se aventuravam pelos bosques
usavam somente arcos e flechas, mas Rave apesar da enorme destreza que teria
com o arco, era ainda melhor com as lâminas, avançava com as suas kukris,
lâminas curvas pouco maiores que adagas. Os assassinos usavam-nas para
degolarem os seus adversários surpreendendo-os por trás. Este seria o destino do veado, pouco mais de quinze metros os
separavam por entre mato serrado. Rave escutava o pulsar do seu coração, tranquilo e sereno como se fosse o seu próprio. O animal não suspeitava da sua presença que se aproximava
paciente num jogo em que raramente perdia. A lâmina passou como um relâmpago na
escuridão, o animal não teve tempo de conhecer a causa da sua morte,
desfalecendo rapidamente nos braços de Rave. Por entre os arbustos ao longe
saltou uma figura que ia ganhando forma metro a metro. Um jovem dos seus treze
anos aproximava-se radiante pelo triunfo do seu mentor.
- Consegui umas ervas aromáticas para o tempero! – Comenta ele num tom de orgulho exibindo-as na
sua mão.
- Isso parece-me capim! – Comenta Rave num tom irónico. Antes que Alexis continuasse Rave interrompeu-o. – Procura lenha
seca, faz mais falta que o tempero.
O mosteiro aguardava-os no fundo de um vale de árvores, pela paisagem verde cruzava-se um riacho selvagem que nascia
por entre as montanhas onde terminavam os bosques de Jak. Parecia um terreno fácil para os assassinos penetrarem sorrateiramente e surpreende-los,
mas Rave conhecia a sua casa, e antes que chegasse pousou o veado morto sobre a
terra e desembainhou as suas espadas.
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