quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Lendas de Guerra - A unificação dos Reinos - Capítulo VII

- Capítulo VII –



Dois dias depois, por entre os bosques de Jak…

Rave movia-se por entre a natureza como se fizesse parte dela, difundia-se por entre a sombra das enormes árvores, o sol penetrava com dificuldade por entre os galhos espessos, numa natureza selvagem de arbustos e riachos num universo cheio de uma vida oculta que florescia na escuridão. Uma pequena torre se elevava por entre as árvores, onde um ancião habitava completamente isolado do mundo. Uma entrada secreta dava acesso a umas escadas que o guiavam ao topo. Rave não precisava ser discreto, algo lhe dizia que o ancião já o aguardava com a habitual caneca de chá silvestre. Entrando naquela pequena divisão sorriu-lhe apesar do velho não comtemplar sorrisos, teria nascido cego…
- O que te traz por cá, filho de Hazindor?
- Eu venho em busca de orientação. – Responde Rave entre suspiros.
- Reconhecer a falta da mesma, é uma rara prova de humildade nestes dias.
- Eu não quero ser o homem que fui. Será que existe algum caminho na minha vida que não requeira mais sangue?
- Se a vida que queres salvar for somente a tua: Existe sim, mas se vives em função de uma causa maior, o teu destino não pode ser alterado. Quer a busques ou quer ela bata à tua porta, a guerra irá sempre estar no teu caminho.
- Existem vários homens que julgam defender uma causa maior. Mas buscam apenas os seus interesses.
- Sim… Ainda bem que ainda existem homens como tu para travá-los. O dia que abandonares os teus princípios, o mal irá prevalecer.
Rave assentiu observando as longas árvores que se estendiam pela janela da torre num campo verde interminável…
- Obrigado! Tenho de ir agora.
- Eu tenho outra visita, ela queria muito se encontrar contigo, talvez o futuro que buscas seja aqui decidido hoje.
Rave colocou a sua mão sobre as espadas um tanto incomodado por alguém que se aproximava pelas escadas mas susteve o seu instinto por momentos quando a jovem mulher guerreira de cabelos dourados ondulados surgiu diante deles com o seu arco pendente sobre as suas costas juntamente com a aljava onde transportava as suas flechas…
- Eu sou a Lorya Cay, líder das arqueiras dos bosques.
- Arqueiras? – Questiona ele entre risos. - Isso não passa de um mito.
- Vivemos num mundo de pouca imaginação, quer queiras quer não todos os mitos são fundados numa verdade que muitos procuram ocultar.
- O que queres de mim?
- Eu sei quem tu és. O grandioso assassino de Hazindor!
- Noutra vida. Continuo sem saber quem tu és realmente.
Intrometendo-se o ancião tomou a palavra…
- Ela é quem diz ser. Existe uma lenda sobre a grande cidade esquecida, onde termina o reino de Vallars. Há muitos anos atrás, o senhor da cidade renunciou o domínio de Vallars sobre as suas terras. Esse senhor pretendia levantar um exército que enfrentasse o rei, investiram arduamente na construção de armaduras, espadas e escudos. O rei ao saber da sua audácia mandou os seus exércitos durante a noite, apanhou a cidade dormindo, mandou matar todos os homens e crianças que pudessem envergar uma espada, os números decretaram que mais de 6000 vidas foram tiradas, apenas as mulheres e suas filhas foram poupadas. Quando o rei regressou na semana seguinte para visitar os despojos da guerra a cidade estava vazia.
As mulheres pegaram em suas crianças e seguiram a estrada que as conduziam ao norte, o rastro desapareceu por entre os enormes bosques de Jak e nunca mais foram vistas, isto é o que a história registou. O que a lenda conta foi que dedicaram-se também à arte da guerra e tornaram-se em exímias arqueiras. Vallars nunca considerou a população feminina perigosa, esta foi a arma que usaram para crescer e formarem este exército em segredo ao longo dos anos. Dentro dos bosques são invencíveis, mas para atacar Vallars irão precisar de alguém que conheça todo o tipo de terreno, de um exímio mestre de guerra.
- Foram vocês então que atacaram os cavaleiros de Vallars com os selvagens de Kombalin, suponho eu. Segundo sei também, foi que tratava-se de uma pequena parte do exército, e que vocês mesmo atacando de surpresa um grupo de cavaleiros que não teve o devido tempo de vestir as armaduras, foram derrotados.
- Nós não permanecemos até ao final da batalha, a nossa existência tinha de permanecer em oculto até ao momento final.
- Digam isso aos selvagens cujos corpos continuam lá a apodrecer. Vallars sabe que os reinos do norte procuram uma unificação, sabe agora que possuem arqueiros exímios, de onde vieram não lhes interessa. Hazindor nem sequer assinou a sua participação e no entanto Vallars que iria ser invadida já está percorrendo os reinos do norte espalhando sangue e morte, sempre um passo à vossa frente. Os pequenos erros, que eles cometeram ao longo da história, foram devido à arrogância de alguns comandantes. O Anglus é diferente, eu conheço-o, ele é prudente, calmo, um verdadeiro arquitecto de guerra. Hazindor tem os melhores guerreiros à face da terra, mas à frente deles agora está um rapaz que é um insulto à nossa história e que de guerra pouco ou nada entende. Todos procuram vingança, e é por ela que os erros acontecem. Este é um jogo de poder, um jogo de reis, não uma disputa de amadores.
Permaneciam em silêncio sentindo o efeito das duras palavras de Rave ecoando com o peso de um destruidor de sonhos…
- Vieste até cá à procura de um novo caminho, o caminho revelou-se a ti, agora a escolha é tua meu filho. – Comenta o ancião sobre o olhar perturbado de Rave.
Suspirou como se tentasse colocar o mundo para fora dos seus pulmões…
- Se Vallars vier até nós eu combato do vosso lado, mas recuso-me a procurar a guerra em Vallars, do mesmo modo recuso-me a lutar pela ambição de lordes, luto apenas pelo povo. Estes termos não são negociáveis.
- Eu aceito-os. – Responde Lorya prontamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário