sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Lendas de Guerra - A unificação dos Reinos - Capítulo X

- Capítulo X –



Os arqueiros de Vallars aguardavam a ordem para disparar sobre o exército que se aproximava, mas a ordem não foi dada. Malcon queria deliciar-se daquele momento e liderou o exército montado no seu cavalo empunhando a sua longa espada. Lorya teria abandonado a fileira das arqueiras colocando-se com a sua lança lado a lado de Rave e Alexis.
- Quem é que vai liderar os arcos?
- Eu dei as instruções necessárias, neste momento precisas mais de espadas do que arcos. Estou certa?
Rave assentiu sem desviar o seu olhar do Cavaleiro dourado que não cedia à proximidade, aguardava por outro lado que Jak cedesse e se aproximasse.
- Temos alcance para abatê-lo? – Questiona Alexis.
- Não, está fora de alcance, talvez se o conseguíssemos fazer-se aproximar! – Comenta Lorya sem demonstrar muito interesse.
- Não temos tempo para planos agora. Vamos formar um círculo de combate na frente do exército, vamos quebrar a marcha deles.
Os soldados de Jak alcançaram aquela frente de Vallars num estrondo terrível, corpos começaram a ser mutilados, trespassados por aquelas enormes lanças que foram içadas para frente. A ordem foi dada e as arqueiras soltaram as flechas que mergulharam com um cálculo perfeito trespassando pescoços, braços e pernas de uma minoria de soldados. Os guerreiros de Vallars começaram a pousar as lanças e a desembainharem espadas longas para um combate directo. Tinha começado. Ao sinal de Rave um pelotão de trezentas arqueiras recolheu os arcos e desembainharam espadas curtas avançando em corrida pelo terreno. Mais à frente já não havia ordem, todos lutavam pelas suas vidas da melhor forma que podiam. No entanto dois homens de Jak distinguiam-se pela técnica exímia que exibiam apanhando os soldados de surpresa. Rave e Alexis combatiam de costas um para o outro quebrando a muralha de ferro, Rave estraçalhou sete vidas numa combinação de golpes em quatro segundos. As armaduras, os escudos e as espadas pesadas tornavam os soldados lentos. Contra os assassinos mais rápidos do planeta era um facto letal, no outro extremo do campo o cavaleiro dourado estraçalhava vidas com golpes certeiros, cortando cabeças, rachando crânios, sempre mantendo-se na devida distância das arqueiras.
As arqueiras de espadas alcançaram a frente da batalha, eram ágeis usavam adagas e espadas curtas, saltavam por cima dos homens, deslizavam por debaixo deles como se fossem raposas proferindo golpes certeiros. Aquela antes muralha de ferro estava dividida ao meio. O combate prolongava-se por minutos desesperantes até que a determinada altura teriam perdido a noção do tempo numa batalha infernal contra o último suspiro. Lorya era uma guerreira exímia, combatia a poucos metros de Rave e Alexis, mais de cem corpos já jaziam entre a morte e a vida naquele círculo de guerra junto aos seus pés. Ao sinal de Malcom a infantaria leve, os famosos guerreiros de Vallars que teriam permanecido como espectadores até o momento avançaram em corrida. Malcom que estava rodeado de rebeldes que tentavam a todo custo colhê-lo como troféu viu-os serem varridos por aquela frente poderosa que avançava em velocidade pelo terreno ceifando dezenas de vidas. De um momento para o outro Rave apercebeu-se que iria acabar em breve. Todos iriam morrer nos próximos minutos a menos que ele arriscasse.
- O Malcom tem de morrer! – Gritou ele exasperado para Lorya. Sem tempo para lhe responder cercada de inimigos Lorya assentia. Voltando-se para Alexis deu lhe indicações rapidamente.
- Mantém-me vivo miúdo, dá-me cobertura.
- Rave são pelo menos quinhentos metros! Tu nunca vais conseguir, aquele lado está completamente perdido!
- Dá a ordem de retirada, se eles vos seguirem manda abrirem fogo para lhes fechar a entrada nos bosques.
- Rave eu…
- Tu estás no comando agora faz o que te digo! – Replicou Rave em alta voz enquanto trespassava a garganta de um soldado que falhou a cabeça de Alexis por milímetros.
Rave avançou em corrida proferindo golpes rápidos pelo caminho, libertou-se da armadura leve que carregava tornando-se ainda mais rápido. Saltava por cima dos soldados como se fossem pedras e muros a uma altura em que já nenhum soldado de Jak estava ao seu alcance. Embateu de frente contra a infantaria leve que atrasou o seu passo mas de longe o travou, começou a esquartejar tudo que se movia à sua frente sentindo alguns cortes na sua pele desprotegida.
Um soldado habilidoso, um comandante pela armadura colocou-se no seu caminho embatendo a espada contra a dele empurrou-o para a frente atingindo-lhe com o escudo na cabeça, o segundo golpe que seria da sua espada foi travado a tempo. Rave desarmou-o e trespassou-o pelo estômago sentindo também o seu sangue escorrer-lhe da cabeça. Prosseguiu abatendo rapidamente mais quatro soldados. Erguendo-se por cima de um homem volumoso e robusto pisou-lhe na cabeça e elevou-se a alguns metros de altura embatendo a espada na do cavaleiro dourado que desviou em apuros o golpe jogando-o por terra.
Rave caiu sobre o chão violentamente, atordoado, levantou-se lentamente com a vista turva tentando focar desesperadamente o cenário que o rodeava antes que a sua vida fosse ceifada. Quando os soldados preparavam-se para trespassá-lo a ordem surgiu daquela voz imponente e autoritária.
- Deixem-no! Esse é meu! – Malcom queria o seu troféu, nada melhor do que o único homem digno de ser morto que teria encontrado nos últimos dias. Levantou a sua espada e avançou com todo o seu vigor.
- Luta justamente! – Gritou Rave para o adversário.
- Eu sou um lorde, seu porco miserável. – Responde Malcom quanto preparava-se para atingi-lo na cabeça com a sua espada longa. Rave deslizou agilmente pelo chão, num golpe certeiro sobre as articulações das pernas do cavalo. O grande animal tombou sem forças jogando o seu dono violentamente contra o chão.
- Um lorde de pouca honra pelos vistos. Agora lutas justamente? Ou vais chamar os teus soldados para te salvarem?
Malcom trespassou brutalmente o seu cavalo moribundo e avançou em fúria sobre Rave, começou a distribuir golpes elegantes e fortíssimos, Rave desvia-se agilmente da fúria do filho de Vallars. O exército estava suspenso observando-os impacientemente. Aproveitando uma falha do lorde, Rave atinge-o violentamente com uma cotovelada nos lábios que começam a jorrar sangue de imediato. Malcom coloca a mão à boca, intensificando ainda mais à sua fúria, apontou um golpe frontal com toda a sua força. Rave contornou aquele ataque rodopiando o seu corpo pelo corpo do cavaleiro como que partilhassem uma dança, deslizou a sua espada atravessando o corpo de Malcom, arrancando sem misericórdia a sua vida. O corpo caiu tombado sobre o chão. Rave estendeu o seu olhar sobre o outro lado do campo a longos metros de si, os sobreviventes alcançavam a floresta e uma muralha de fogo separava-os dos soldados de Vallars. Estava orgulhoso do seu pupilo, enfrentava agora o seu destino em paz, cercado por milhares de guerreiros aguardando que a sua vida lhe fosse tirada.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Lendas de Guerra - A unificação dos Reinos - Capítulo IX

- Capítulo IX –



Campos de Idian, fronteira de Jak, duas semanas depois…
O extenso acampamento do exército de Vallars estendia-se pelos largos campos onde as planícies terminavam. Os enormes bosques que os observavam acima da colina transpareciam um aspecto inquisidor, de certa forma muito mais assustadores que os rebeldes que procuravam. Malcon não tinha demonstrado pressa até ao momento. Tinham-se instalado o mais comodamente possível. Começavam a levantar barracas de madeira dando a ideia de quem teria vindo para ficar. Ter tempo para planear a sua estratégia não era propriamente o incentivo que Rave buscava, quanto mais os seus soldados reparavam naquele enorme exército que se formava pouco a pouco, cada vez mais a coragem se dispersava entre eles. Malcom aguardava que o povo de Jak fosse até ele e poupasse-o de entrar pelos terrenos astutos dos bosques, e cada minuto que passava a sua defesa ia crescendo. Ele estava a preparar-se para uma guerra não uma batalha, as construções destinavam-se a ataques futuros a Hazindor e Kombalin. e a cada minuto que Jak lhes concedia mais se aproximavam desse plano. Todos estes pensamentos giravam na mente de Rave. Teria conseguido mais cento e cinquenta soldados naquele compasso de espera e os selvagens de Kombalin não apareciam no horizonte como prometido. Era tempo de agir.
Quando o sol se estendeu no seu ponto mais alto, a frente de Jak emergiu das sombras dos bosques. Vallars começou a preparar-se lentamente sem qualquer preocupação. Rave tentava incutir a máxima disciplina que podia, havia alguns homens de guerra entre ele que o ajudavam a atingir esse fim. Alexis permanecia do seu lado, com uma vestimenta que lhe ficava larga, tinha o corpo de um rapaz, não faziam armaduras para rapazes da sua idade. Parecia nervoso, a ansiedade teria o deixado com enjoos, estava pálido mas queria ocultar tudo isso a Rave que o afastaria de imediato se denotasse qualquer sinal de fraqueza. Então o silêncio terminou com o grito de guerra do outro lado do campo quando um soldado de Jak regressava após falar com o representante de Vallars.
- O que foi que eles propuseram? – Questionou Rave embora já soubesse a resposta.
- A rendição total, um juramento de fidelidade ao rei e a incorporação no exército de Vallars. Em troco seriamos todos poupados.
- O que ele achou dos nossos termos?
- Riu-se e cuspiu no chão. Disse que seríamos queimados juntamente com os bosques.
- Então temos guerra!
- Eu não vesti esta roupa ridícula para nada! – Comenta Alexis num ar revoltoso.
- Se todos partilhassem do teu espírito o Malcom iria ter sérios motivos com que se preocupar. – Virando-se face ao exército que aguardava as ordens Rave pronunciou-se em voz alta.
- Vocês não são mais lavradores, pastores, carpinteiros, homens ou mulheres. Hoje somos todos soldados, não lutamos por honra, glória ou poder, Lutamos pelos nossos filhos, pelos nossos pais, pelos nossos irmãos e irmãs. Lutamos pela nossa terra, lutamos pelo nosso futuro, que neste dia Vallars possa testemunhar a coragem de Jak.
Todos assentiram em gritos de concordância. Do outro lado do campo o exército de Vallars marchava em passo lento e ordeiro. Os longos escudos desenhavam uma muralha de ferro impenetrável tal como Rave teria previsto. Os soldados empunhavam lanças compridas empunhadas ao céu.
Rave gritou a ordem de avanço, Alexis respirou fundo e quando abriu os olhos, a ansiedade e o pavor tinham-se transformado numa extenuante adrenalina que fluía sobre o seu sangue fazendo o seu coração pulsar aceleradamente. Controlando-se respirou fundo e mentalizou-se. – Eu nasci para isto. – Desembainhou as suas espadas e seguiu o seu mentor para aquele inferno de homens de ferro.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Lendas de Guerra - A unificação dos Reinos - Capítulo VIII

- Capítulo VIII –


Acampamento das arqueiras dos bosques, alugares por entre as enormes florestas de Jak, três semanas depois…
Alexis treinava o seu equilíbrio empoleirado numa árvore, por vezes a visita desagradável daquela dor profunda na sua perna visitava-o com o frio. Tentava superar as suas fraquezas, estar acima das suas cicatrizes, uma devoção tão forte que perturbava Rave. O assassino procurava a todo o custo mantê-lo fora da guerra. Mas a guerra estava a caminhar na direcção deles como a fúria de uma tempestade.
Rave estendia o seu olhar por entre a multidão de todas as idades, entregues aos seus afazeres numa disciplina impressionante. A luta pela sobrevivência daquele povo transmitia resultados perfeitos. As arqueiras eram realmente extraordinárias na arte do arco, tinham superado as suas expectativas, no entanto um pouco débeis na arte da espada. Do seu ponto de vista um soldado teria de ser perfeito, algo que colocou em prática de ensino da melhor forma que pode. As notícias da guerra informavam que Vallars estava a avançar em duas frentes distintas, o que complicava muito mais a possibilidade da unificação dos reinos do norte, uma vez que cada qual teria de defender as suas terras. Pelo Este Anglus continuava a devastar aldeias e vilas, cobrando o juramento de lealdade ao rei a todos os povos do norte, quem negasse seria acusado de traição sobre pena de morte. No entanto enfrentava agora uma força rebelde que atrasava arduamente o seu caminho até Essin. Os rebeldes lideravam os seus ataques durante a noite em vagas sucessivas refugiando-se em seguida nos terrenos selvagens, mas Anglus estava determinado a tomar o tempo que fosse preciso.
Pelo oeste notícias chegavam do exímio guerreiro, Lorde Malcom sobrinho do rei que liderava os seus exércitos exibindo a sua armadura dourada. Uma pequena fracção de camponeses e caçadores que se impôs teria sido esmagada ao longo da semana. Marchavam agora livremente rumo aos bosques de Jak, o tenebroso terreno que os separava de Hazindor.
Kombalin era o destino mais complicado de Vallars, até o momento o seu envolvimento na guerra era um mistério. Rave não confiava neles, na frente da facção estava um enorme gigante, cheio de tatuagens do rosto aos pés que lhe dava uma aparência medonha e duvidosa. No entanto era o único selvagem que possuía um cérebro decente e fazia uso dele, dizia Rave. Se havia algo que o líder de Kombalin não tinha, era ignorância, mas muito menos seria possuidor de compaixão. O seu envolvimento teria algum interesse, o qual permanecia um mistério.
- Recebi agora a mensagem, o sobrinho do rei estará nas fronteiras de Jak dentro de três dias, estimasse com um exército de sete mil de infantaria, perto de quinhentos arqueiros, apenas alguns cavaleiros. – Comenta Lorya Cay ao se dirigir a Rave.
- Sim, cavaleiros neste terreno seriam inúteis. Eles esperam que a batalha termine com as arqueiras a refugiarem-se nos bosques. Os bosques são terrenos perigosos para se percorrer numa montada. As armaduras serão pesadas e espessas. Escudos compridos de metro e meio para a frente da batalha, redondos para a traseira onde conservam os soldados mais habilidosos e rápidos. As flechas vão ser inúteis para travá-los, eles não cometem o mesmo erro duas vezes. Vamos arriscar uma batalha em campo aberto.
- Achas que podemos vencer?
- Não… Mas podemos atrasar o avanço deles. Pelo menos até os teus amigos selvagens chegarem, se é que viram mesmo.
- Eles não fazem uso ao conceito de pontualidade. Mas temos que acreditar que eles virão, ele deu-me a palavra dele.
- Acreditar não vence batalhas. Manda um mensageiro tentar interceptá-los para termos uma ideia do tempo que temos.
- Está certo. – Assentiu Lorya prontamente.
As forças de Jak eram na maioria mulheres, estimava-se um número de duas mil arqueiras prontas para combater. Entre os povos espalhados pelas vilas que contornavam a fronteira de Jak, Rave teria conseguido recrutar cerca de trezentos homens capazes de lutar, na maioria ex-soldados e jovens infectados de medo. Provavelmente cederiam todos face ao inimigo, prevalecia apenas a inspiração na coragem do homem que tinham à sua frente. O assassino mais perigoso à face da terra lutava agora por todos eles.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Lendas de Guerra - A unificação dos Reinos - Capítulo VII

- Capítulo VII –



Dois dias depois, por entre os bosques de Jak…

Rave movia-se por entre a natureza como se fizesse parte dela, difundia-se por entre a sombra das enormes árvores, o sol penetrava com dificuldade por entre os galhos espessos, numa natureza selvagem de arbustos e riachos num universo cheio de uma vida oculta que florescia na escuridão. Uma pequena torre se elevava por entre as árvores, onde um ancião habitava completamente isolado do mundo. Uma entrada secreta dava acesso a umas escadas que o guiavam ao topo. Rave não precisava ser discreto, algo lhe dizia que o ancião já o aguardava com a habitual caneca de chá silvestre. Entrando naquela pequena divisão sorriu-lhe apesar do velho não comtemplar sorrisos, teria nascido cego…
- O que te traz por cá, filho de Hazindor?
- Eu venho em busca de orientação. – Responde Rave entre suspiros.
- Reconhecer a falta da mesma, é uma rara prova de humildade nestes dias.
- Eu não quero ser o homem que fui. Será que existe algum caminho na minha vida que não requeira mais sangue?
- Se a vida que queres salvar for somente a tua: Existe sim, mas se vives em função de uma causa maior, o teu destino não pode ser alterado. Quer a busques ou quer ela bata à tua porta, a guerra irá sempre estar no teu caminho.
- Existem vários homens que julgam defender uma causa maior. Mas buscam apenas os seus interesses.
- Sim… Ainda bem que ainda existem homens como tu para travá-los. O dia que abandonares os teus princípios, o mal irá prevalecer.
Rave assentiu observando as longas árvores que se estendiam pela janela da torre num campo verde interminável…
- Obrigado! Tenho de ir agora.
- Eu tenho outra visita, ela queria muito se encontrar contigo, talvez o futuro que buscas seja aqui decidido hoje.
Rave colocou a sua mão sobre as espadas um tanto incomodado por alguém que se aproximava pelas escadas mas susteve o seu instinto por momentos quando a jovem mulher guerreira de cabelos dourados ondulados surgiu diante deles com o seu arco pendente sobre as suas costas juntamente com a aljava onde transportava as suas flechas…
- Eu sou a Lorya Cay, líder das arqueiras dos bosques.
- Arqueiras? – Questiona ele entre risos. - Isso não passa de um mito.
- Vivemos num mundo de pouca imaginação, quer queiras quer não todos os mitos são fundados numa verdade que muitos procuram ocultar.
- O que queres de mim?
- Eu sei quem tu és. O grandioso assassino de Hazindor!
- Noutra vida. Continuo sem saber quem tu és realmente.
Intrometendo-se o ancião tomou a palavra…
- Ela é quem diz ser. Existe uma lenda sobre a grande cidade esquecida, onde termina o reino de Vallars. Há muitos anos atrás, o senhor da cidade renunciou o domínio de Vallars sobre as suas terras. Esse senhor pretendia levantar um exército que enfrentasse o rei, investiram arduamente na construção de armaduras, espadas e escudos. O rei ao saber da sua audácia mandou os seus exércitos durante a noite, apanhou a cidade dormindo, mandou matar todos os homens e crianças que pudessem envergar uma espada, os números decretaram que mais de 6000 vidas foram tiradas, apenas as mulheres e suas filhas foram poupadas. Quando o rei regressou na semana seguinte para visitar os despojos da guerra a cidade estava vazia.
As mulheres pegaram em suas crianças e seguiram a estrada que as conduziam ao norte, o rastro desapareceu por entre os enormes bosques de Jak e nunca mais foram vistas, isto é o que a história registou. O que a lenda conta foi que dedicaram-se também à arte da guerra e tornaram-se em exímias arqueiras. Vallars nunca considerou a população feminina perigosa, esta foi a arma que usaram para crescer e formarem este exército em segredo ao longo dos anos. Dentro dos bosques são invencíveis, mas para atacar Vallars irão precisar de alguém que conheça todo o tipo de terreno, de um exímio mestre de guerra.
- Foram vocês então que atacaram os cavaleiros de Vallars com os selvagens de Kombalin, suponho eu. Segundo sei também, foi que tratava-se de uma pequena parte do exército, e que vocês mesmo atacando de surpresa um grupo de cavaleiros que não teve o devido tempo de vestir as armaduras, foram derrotados.
- Nós não permanecemos até ao final da batalha, a nossa existência tinha de permanecer em oculto até ao momento final.
- Digam isso aos selvagens cujos corpos continuam lá a apodrecer. Vallars sabe que os reinos do norte procuram uma unificação, sabe agora que possuem arqueiros exímios, de onde vieram não lhes interessa. Hazindor nem sequer assinou a sua participação e no entanto Vallars que iria ser invadida já está percorrendo os reinos do norte espalhando sangue e morte, sempre um passo à vossa frente. Os pequenos erros, que eles cometeram ao longo da história, foram devido à arrogância de alguns comandantes. O Anglus é diferente, eu conheço-o, ele é prudente, calmo, um verdadeiro arquitecto de guerra. Hazindor tem os melhores guerreiros à face da terra, mas à frente deles agora está um rapaz que é um insulto à nossa história e que de guerra pouco ou nada entende. Todos procuram vingança, e é por ela que os erros acontecem. Este é um jogo de poder, um jogo de reis, não uma disputa de amadores.
Permaneciam em silêncio sentindo o efeito das duras palavras de Rave ecoando com o peso de um destruidor de sonhos…
- Vieste até cá à procura de um novo caminho, o caminho revelou-se a ti, agora a escolha é tua meu filho. – Comenta o ancião sobre o olhar perturbado de Rave.
Suspirou como se tentasse colocar o mundo para fora dos seus pulmões…
- Se Vallars vier até nós eu combato do vosso lado, mas recuso-me a procurar a guerra em Vallars, do mesmo modo recuso-me a lutar pela ambição de lordes, luto apenas pelo povo. Estes termos não são negociáveis.
- Eu aceito-os. – Responde Lorya prontamente.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Lendas de Guerra - A unificação dos Reinos - Capítulo VI


- Capítulo VI –




A Fortaleza de Hazindor estendia-se sobre as montanhas do enorme desfiladeiro onde diziam que terminava o mundo. Um mar gigantesco e misterioso se estendia pelo horizonte inalcançável, brilhante e poderoso. Rave subia a estrada estreita de pedra que o conduzia aos enormes portões da fortaleza, chamavam-lhe a terra dos sem pátria. Recordava lentamente o dia em que teria chegado até aos assassinos, uma criança assustada que teria visto a sua aldeia ser queimada e a sua família assassinada. Pela estrada teria sido capturado por aqueles homens de negro, os lendários assassinos de Hazindor. Um homem de rosto coberto analisava cada osso do seu corpo, se denotasse fragilidade, teria o morto sem qualquer remorso, mas o rapaz era forte, tinha um olhar vazio e frio, mas acima de todas essas qualidades não demonstrava qualquer medo.
Talvez por ver a sua história se repetir no rosto de Alexis se tenha movido de compaixão e o acolhido ao seu cuidado. Talvez também por conhecer tão bem o mal, o peso dos seus actos, apoiava fielmente o seu antigo Lorde. Procurava fazer as pazes com o seu passado, nas escolhas que não tinha conseguido contornar, e o seu caminho começava ali, na casa do seu inimigo, no princípio da sua jornada.
O novo lorde Kastus Erakis repousava sobre um tanque aquecido, aromatizado pelas pétalas das rosas que flutuavam delicadamente sobre as águas. Sentia-se tranquilo nos seus aposentos, na lendária fortaleza que vinte mil homens não teriam conseguido tomar. Mas subitamente a sua confiança se abateu quando Rave se apresentou calmamente diante de si.
- A esta altura já deves ter percebido que os sete homens que enviaste até mim estão mortos. Creio que pudemos passar esse assunto. – Comenta Rave.
- Deixa-me ir buscar a minha espada para que possamos lutar justamente.
- Não estou aqui para te matar seu rato miserável. Do que adianta? Colocariam outro idiota como tu no teu lugar, porque de idiotas o mundo está cheio, agora homens como o teu pai foi, esses são raros. Não percebes que o Drakon como muitos outros, estão a usar-te, para conseguirem a guerra que tanto sonham?
- O mundo inteiro está em guerra. Porque não estaríamos nós também? Deverei esperar que ela me bata à porta?
- Ela já nos bateu à porta no passado e sobrevivemos. Eu sei que o teu pai queria que eu liderasse os assassinos. Mas Hazindor não me interessa, nunca interessou, o meu único interesse é a paz. Tinha esperanças de te conseguir fazer ver que o caminho que escolheste não te trará qualquer benefício, apenas o sangue dos nossos irmãos.
- Porque te preocupas connosco? Mesmo depois de ter-te mandado matar? Este nem sequer é o teu verdadeiro povo.
- Eu estou-me nas tintas para ti e para a ordem. Apenas honro um pouco mais a memória de um velho as portas da morte, do que os seus próprios filhos. Eu escolhi o meu caminho e não me irei colocar no teu e nas escolhas que tomares. Mas se voltares a aproximar-te de mim ou do Alexis eu prometo-te que ofereço a tua cabeça num espeto ao rei Falcon.
- Não te preocupes, tenho outras prioridades, segue o teu caminho em paz… irmão!
- Não percas o teu tempo a perseguir-me agora. Conheço estas terras melhor do que tu… e esta é pelo teu pai.
Antes que Kastus tivesse tempo de responder Rave atinge-o violentamente com o cabo da sua espada partindo-lhe o nariz e deixando-o inconsciente entre as rosas.
Rave partiu sem entender o que teria feito, pelo caminho a raiva que o consumiu dava-lhe uma plena certeza que iria assassinar Kastus Erakis entre outros. Mas a viagem apaziguou o seu propósito, pagando sangue com sangue nunca lhe traria paz, apenas alimentaria o monstro adormecido dentro de si.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Lendas de Guerra - A unificação dos Reinos - Capítulo V

- Capítulo V –




Tom e Ned permaneciam exaustos em silêncio com os olhos vidrados sentados sobre um chão arenoso, aquecendo-se ao calor da lareira. Os corpos dos cavaleiros continuavam a ser removidos do campo. Ambos contemplavam o cenário horrível que se estendiam por vários hectares. Teriam perdido mais de duzentos soldados numa batalha que devia ter corrido doutra forma, mas o importante para quem não se preocupa com os números é que tinham ganho. A história seria o que quer que eles quisessem. Os mortos não iriam poder deixar os seus relatos. No entanto sobre Tom e Ned, ninguém iria precisar mentir.
Batedores foram enviados tentando procurar o rastro dos arqueiros que teriam abatido os cavaleiros no confronto, pela primeira vez na história os selvagens actuavam em conjunto com outra força, uma força desconhecida que recordava uma antiga lenda.
Os dois rapazes levantaram-se prontamente sobre a presença do comandante Anglus que surgiu diante deles…
- Meu comandante!
- À vontade rapazes! Estamos todos muito orgulhosos da maneira como vocês combateram naquela frente e eu não sou de paparicar ninguém. Mas já vi veteranos de guerra borrarem-se todos perante um cenário semelhante. Iria perguntar onde aprenderam a combater mas o teu sobrenome fala por ti.
- O meu sobrenome?
- Sabes ao menos quem o teu pai foi? O que ele fez por este reino?
- O meu pai ainda é! Eu sei quem ele é!
- Como eu disse… o que ele foi, não o que ele é.
Os jovens permaneceram em silêncio perante aquela afirmação repentina e inesperada, no entanto convicta. Tom sabia que o seu pai tinha sido cavaleiro como ele, e isso era tudo. Mas pelo que parecia estava prestes a descobrir algo mais.
- O teu pai foi um pioneiro na guerra para além das fronteiras. Ele liderou batalhões por todo o reino do norte e nunca perdeu uma batalha. Nem mesmo os assassinos de Hazindor conseguiram por um fim à sua vida. Os que tentaram morreram na tentativa.
O comandante falava de Ted MCcalan, com uma certa vaidade, um certo orgulho. Mas Tom recordava lentamente as histórias das atrocidades que teriam sido feitas por Vallars no norte, aldeias queimadas juntamente com mulheres e crianças. As acções que teriam unificado os reinos e gerado o ódio entre os povos. Nenhum exército teria alguma vez derrubado Hazindor, ou tomado o forte do lorde Murtosa em Essin. As vitórias teriam sido arrancadas sobre o sangue dos inocentes. Tom tentava ocultar o seu constrangimento ao seu comandante. Sabia que nem sempre devia dar atenção aos rumores e acreditava que conhecia melhor o seu pai do que Anglus.
- Obrigado comandante! Fico feliz por saber que somos de bom uso ao reino.
- Mantenham-se vivos. A cada passo que dermos agora estaremos cada vez mais longe de casa e mais no coração dos inimigos. Estes eram selvagens que nunca tiveram instrução decente de como manejar uma espada. Não é nada disto que iremos encontrar em Essin.
- Estamos cientes do perigo meu senhor. Daremos o nosso melhor!
- Ainda bem! Agora descansem, amanhã avançamos.

Pela noite sonhos perturbadores visitavam a consciência de Tom, sombras inquisidoras acusavam-no de assassinato perseguindo e atentando à sua vida. Escutava o grito dos inocentes sobre as espadas que se abatiam sobre eles. Desperta subitamente sobre suores num medo contido, medo tal que não teria sentido no campo de batalha, mas o visitava agora nos seus pensamentos. Tentou pensar em Kyla, a jovem com quem teria estado antes de partir para a guerra, de quem não teve oportunidade de se despedir e que daria tudo para voltar a vê-la. Envolto naquela última lembrança, naquele último toque, ele sentiu a calma o receber num abraço caloroso, deixando a escuridão e a inquietude para trás.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Lendas de Guerra - A unificação dos Reinos - Capítulo IV

- Capítulo IV -



Tom cavalgava juntamente com o exército de Vallars debaixo de um sol brilhante, teria sido uma marcha de quatro dias rumo à frente da batalha na fronteira com o norte. Os seus lábios estavam ressequidos, teria visto alguns soldados da infantaria tombarem pelo caminho, o comandante que liderava o exército não autorizava interrupções para assistir os feridos ou enterrar os mortos. Os cavaleiros eram privilegiados pelo seu estatuto e pelas suas montadas, mas a sede, essa chegava a todos. O acampamento surtiu como uma miragem, juntos iriam compor uma força de mil cavaleiros e oito mil de infantaria. Iriam estabelecer uma base com o intuito de avançar para Essin, ao reino do lorde Murtosa e tomá-lo de uma investida só. Fortificando-se daquele ponto, iriam distribuir toda as operações militares a partir daquele local. Falcon sempre se sentira superior ao norte e partia do princípio que iria ter uma retaliação fraca. Pretendia terminar aquela guerra rapidamente.
Tom repousava agora sobre os estábulos sentado sobre um farto de palha cabisbaixo. Ned aproximasse dele intrigado pelo seu silêncio pouco habitual.
- O que se passa contigo? Pensei que fosse isto que quisesses, foi para isto que os nossos pais nos prepararam durante os últimos anos.
Como que contornando o assunto Tom responde à pergunta que não tinha sido colocada…
- Conheci uma rapariga a semana passada, dois dias antes de sermos recrutados. Vou lutar uma guerra que ninguém sabe o motivo da mesma, contra um povo que não conheço e nunca me afrontou, para alcançar uma honra que não me serve para nada. Eu nunca quis nada disto, os nossos pais lutaram para que nós fossemos poupados deste dia, agora diz-me se valeu a pena eles se privarem da nossa infância e dos nossos sonhos. Nós vamos morrer nesta guerra e as nossas gerações iram morrer connosco. Não vai haver ninguém para contar a nossa história.
- Eles sobreviveram, não foi? Tu também vais sobreviver e quem sabe quando regressares aquela miúda que falas esteja a tua espera. A menos que seja mesmo gira aí sou capaz de te passar a perna. – Comenta Ned numa gargalhada despenteando o cabelo farto do seu companheiro.
Um oficial entrou de rompante dando o alerta, a tribo dos selvagens avançava ferozmente em corrida num número perto de trezentos guerreiros de foices, machados e escudos de madeira e ferro. O comandante ordenou a cem cavaleiros que travassem a investida. Subindo rapidamente para os seus cavalos Tom e Ned iriam por a prova as suas aptidões num primeiro teste que não dava segundas oportunidades a ninguém.
Colocaram-se nas fileiras, os gritos das instruções ecoavam com um som estridente e incompreensível, no entanto desnecessário. Eles sabiam o que tinham de fazer, as instruções eram um mero protocolo, ao sinal avançaram sobre os cavalos de guerra de lanças empunhadas contra a força inimiga, um jovem capitão liderava a montada, queria ser o primeiro a colher o seu troféu, Tom mais atrás observava o seu acampamento encolhendo aos seus olhos. Já tinha escutado histórias da ignorância e das imprudências dos selvagens, mas um ataque de um número tão pequeno em plena luz do dia sem tempo para causar surpresa era um suicídio incompreensível, talvez em excesso. O exército que marchava travou o seu passo, apreensivo o capitão prosseguiu com a sua ordem. Uma lomba que afastava o controlo visual do outro lado do campo deu-lhe um mau pressentimento. Uma coluna de arqueiros surgiu subitamente entre eles e os selvagens. Num ataque controlado os céus se enegreceram de flechas que desceram sobre os cavaleiros em toda a sua fúria. Os soldados de Vallars começaram a tombar rapidamente, uma flecha trespassou o jovem capitão que tombou morto por debaixo do seu cavalo. Tom separou-se de Ned, tentava procurar o seu companheiro no meio do alvoroço mas tinha de dar prioridade à investida que descia sobre eles. Alguns jovens que nunca teriam participado de uma batalha começavam a recuar com os seus cavalos em desespero. Outra investida de flechas em fogo caiu a duzentos metros do seu percurso, separando agora aquele pequeno exército do acampamento através dum rio de fogo.
Ao longe o comandante observava o movimento completamente atónito e sem reacção, recompondo-se ordenou à infantaria que se colocasse em posição e deu a ordem de avanço.
O exército dos selvagens do norte prosseguiu com a sua investida numa altura que os arqueiros do clã dos bosques se dispersavam do seu caminho. Tom despertou debaixo do seu cavalo morto. Sentia a sua perna presa, o cheiro do fumo teria coberto toda a planície e o som do grito dos bárbaros que se aproximavam era ensurdecedor. Forçando a sua perna conseguiu se soltar. Ao seu lado haviam alguns soldados desnorteados sem reacção. – O que fazemos? -questionava um dos jovens. Observando a alguns metros o capitão morto, Tom assentiu com firmeza a autoridade que lhe ofereciam…
- Agora?... Lutamos pelo nosso rei e pela nossa pátria.
Os cavaleiros alimentaram-se daquela coragem de um jovem determinado e desembainharam as suas espadas num grito de guerra. Tom liderou a pé a marcha avistando os selvagens a poucos metros. Por entre o fumo escutava os passos pesados, o som dos primeiros golpes cortantes. Embateu furiosamente contra um bárbaro de estatura baixa, gordo e calvo com talvez o triplo da sua idade. O homem defendia com dificuldade os seus golpes, Tom sabia que teria de ser rápido pois o número de oponentes crescia rapidamente como uma infestação. A sua espada trespassou aquele corpo como muitas vezes teria trespassado bonecos de palha nos treinos do seu pai. Nunca tinha estado numa batalha e a velocidade com que matou três homens foi demasiado rápida para recordar qual deles teria sido o primeiro, e que realmente era verdade, ele tinha morto um homem, agora não havia retorno.
Não tinha tido tempo para temer pela sua vida, os guerreiros eram homens sem formação de combate, o insulto aos cavaleiros de Vallars, no entanto por entre os selvagens aproximou-se um enorme soldado, corpulento, da sua mão pendia um machado enorme manchado com o sangue dos seus companheiros. Avançou furiosamente contra ele embatendo aquela arma na sua espada. O impacto empurrou-o contra o chão sentindo como um zunido estridente do choque do ferro atordoando-lhe os ouvidos. O machado desceu fortemente contra ele, Tom desviou-se rapidamente tentando se recompor. Lentamente a sua mente florescia, o cansaço se continha num ritmo acelerado, a sua transpiração se controlava lentamente num exame instintivo que lhe cedia tudo o que ele precisava saber para sobreviver os próximos segundos. Num curto relance apercebeu-se que tinha a seu favor a velocidade, a juventude, o vigor e a destreza, teria que manter a distância investindo em golpes laterais, dançando rapidamente com o seu adversário. Quando avançou novamente não era mais aquele rapaz que teria saído de Hellian a alguns dias atrás. Agora ele era um soldado de Vallars, frio e implacável.
Embateu com toda a força que tinha violentamente contra o escudo do bárbaro que recuava lentamente face as investidas. Por duas vezes a espada teria proferido golpes nas suas laterais desprotegidas da armadura espessa. O homem estava exausto mas não cedia, era um guerreiro veterano. Surpreendeu o Tom com o cabo do seu machado, atingindo-o fortemente no rosto, sem tempo para se recuperar recebeu outro golpe do machado que se afundou na sua carne junto à cintura. Em agonia respondeu-lhe com um golpe lateral no rosto que lhe arrancou a máscara de guerra deixando-lhe um rosto completamente desfigurado. Os dois soldados andavam em círculos cambaleando sobre os seus ferimentos. Enquanto observava sem fôlego o seu oponente uma espada trespassa o bárbaro por trás fazendo-o tombar de joelhos. Ned revela-se por detrás da figura de arma em punho e um rosto atormentado manchado de sangue, parecia ter envelhecido quinze anos desde há instantes.
- Estás bem? – Questiona ele rapidamente.
- To a aquecer ainda! Obrigado!
Ned ignorou a gratidão do seu companheiro, colocando-se rapidamente de costas para ele numa altura em que se viam cercados por cerca de quinze bárbaros. Retomaram uma nova força em conjunto e começaram a distribuir golpes rapidíssimos com uma elegância distinta. A poucos metros avançava a infantaria de Vallars ao seu auxílio. Ao cimo da colina o comandante Anglus observava a batalha consumido pelo espanto, observando o seu auxiliar questiona-o.
- Quem são aqueles dois cavaleiros que sozinhos já mataram mais de quarenta selvagens?
- Apoderando-se do comprido monóculo o auxiliar confirma o reconhecimento.
- Aqueles são o Tom MCcalan e o Ned Rodden, são dois dos jovens reforços de Hellian.
- MCcalan! – Comenta o comandante num tom de espanto e surpresa. O misterioso nome renascia das cinzas do seu esquecimento como uma luz na escuridão.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Lendas de Guerra - A unificação dos Reinos - Capítulo III


- Capítulo III –

Alexis que até ao momento tinha estado distraído entre os seus pensamentos da caçada, arrebatou-se naquele momento pelo acto repentino de Rave, colocando-se automaticamente em alerta. O jovem que tinha se demonstrado até ao momento como um rapaz imaturo e dócil, transformou-se em segundos num guerreiro desembainhando também duas espadas curtas dando as suas costas a Rave.
- Não temos muito tempo, são pelo menos sete elementos, pelo modo como caminham são assassinos, se ficarmos nesta posição defensiva vamos morrer os dois. Vamos ter de nos mexer e em sentidos opostos. O que quer que aconteça não hesites. Vai! – Grita Rave no momento em que uma foice projectada passa rente ao seu pescoço. Por entre os arbustos salta um guerreiro de negro e de rosto vendado empunhando dois manguais de correntes longas rodopiando-as com agilidade. Rave com o pensamento na criança que estava cercada por assassinos não conseguia se focar no adversário, quando julgava que a tarefa estava complicada juntaram-se mais dois a ele. Escutava o fôlego de Alexis a cerca de dez metros de si, mas não se atrevia a desviar o olhar, meio segundo poderia ser fatal. Desarmando um dos assassinos trespassou-o pela garganta. Com um pontapé afastou outro rapidamente a tempo de remover a espada, agilmente deslizou o seu corpo pelo chão húmido proferindo um golpe letal no estômago de outro assassino. Alexis debatia-se agilmente contra um dos guerreiros de Hazindor, não teria tido tempo para estar nervoso, para pensar na morte, sobrevivia através do instinto que Rave lhe teria legado. Tinha sido apanhado de surpresa e estava a ser surpreendido pela revelação da sua força. Um som de outro guerreiro sendo morto pelas espadas de Rave distraiu por um momento a sua atenção, erro esse que lhe custou um golpe profundo na perna esquerda. O ferimento obrigou-o a recuar combalido em dores a que não estava habituado. O assassino investiu furiosamente para o matar. Mantendo a calma, Alexis desvia o golpe com a sua espada e crava a segunda arma directamente na garganta do seu adversário. Lentamente observa aterrorizado a vida se esvaindo daquele corpo. Perante o terror que o assombrava através daquele olhar um segundo assassino se existisse teria sido letal, mas naquele momento estavam todos mortos e Rave já limpava as suas espadas observando-o um tanto preocupado, a emboscada teria sido um teste excessivo ao seu discípulo, não teria segundas oportunidades, mas ele tinha passado com distinção.
- Matei um homem? – Comenta ele em estado de choque…
- Sim… e não será o último certamente. Vamos tratar desse ferimento.
Os monges teriam deixado o mosteiro a mais de cem anos, as histórias mencionavam que teriam sido assassinados durante a noite. O assombro do espaço mantinha a descrição e servia de refúgio ao assassino de Hazindor. Preparando água quente e ervas medicinais observava Alexis ainda combatido, sentado sobre o chão, observando o sangue esvair-se do seu corpo lentamente.
- Se eles vieram até cá, quer dizer que o Lord Erakis está morto e um dos filhos apoderou-se da liderança. Ele estava doente há anos. Devido ao seu estado os filhos tornaram-se rebeldes sendo constantemente envenenados por algumas cobras que anseiam por atacar Vallars. Entre eles e Vallars existo apenas eu que sempre fui leal a Erakis.
- O que vamos fazer?
- Tu vais te esconder no bosque até essa perna sarar. Eu vou até Hazindor, os quantos homens terão de morrer, caso contrário vamos presenciar a maior guerra dos últimos duzentos anos. Há quatro anos atrás o lorde Erakis recebeu uma notificação para uma aliança de todos os reinos do norte numa investida contra Vallars, na altura ele recusou a aliança e mesmo sem Hazindor eles avançaram com a guerra que iniciou-se junto as muralhas. Foram derrubados em Vallars na primeira batalha em campo aberto. Penetrando nas terras do norte Vallars conduziu o seu exército, mas o terreno selvagem a que não estão habituados tem vindo a reverter os resultados. O rei Falcon deseja mais do que algum dos seus antecessores alguma vez desejou, tomar o controlo do norte. Eles foram sempre imbatíveis no sul, mas se Hazindor se juntar à guerra talvez as coisas mudem.
- Mas os assassinos não são guerreiros de campo aberto, são individualistas, actuam em pequenos grupos, não usam armaduras nem escudos.
- Sim, mas estudaram todas as artes de guerra nos últimos dois mil anos, e nunca perderam uma batalha, vinte mil homens de Vallars padeceram frente aquela fortaleza.
- Mas em campo aberto? Em Vallars?
- Os reinos não estão habituados a combater numa só força unificada, os selvagens de Kombalin não tem sequer qualquer noção de estratégias de guerra, lutam por impulso. A minha esperança é que entre alguns desentendimentos eles nunca se unam.
- Por vezes parece que estás a favor de Vallars!
- Não estou a favor de ninguém, estou a favor de um futuro, se esta guerra persistir nenhum de nós o terá.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Lendas de Guerra - A unificação dos Reinos - Capítulo II


 - Capítulo II –

Hazindor, fortaleza do Lorde Erakis dos reinos do norte…

Nostrus Erakis amanhecia morto no seu leito, o velho líder teria tentado corrigir o percurso sangrento que os seus antecessores teriam gerado durante os últimos séculos. Sem depositar a sua confiança nos seus dois filhos, uma carta teria sido enviada com uma ordenança de um novo Lorde, que pudesse garantir a paz entre os reinos, mas a carta nunca chegou ao seu destino e antes que o corpo de Nostrus arrefecesse, os dois irmãos gémeos disputavam a liderança do clã Erakis num duelo mortal diante do templo de pedra, elevado pela dinastia da família. Hazindor era o templo da ordem dos assassinos, guerreiros lendários, exímios na arte da espada e todas as lâminas. Os registos históricos descreviam uma batalha em que Vallars teria tentado tomar a fortaleza há duzentos anos atrás. Vinte mil soldados do reino do sul perderam a vida naqueles vales e montanhas que se estendiam por todo reino, nenhum deles conseguiu penetrar em Hazindor.
Os irmãos permaneciam imóveis sobre aquele palco de pedra de espadas leves e cortantes em punho sobre o silêncio aterrador e expectante dos seus generais e ministros. Sentiam o bater dos corações acelerado como um só som que se fundia numa marcha de emoções. Num movimento rápido avançaram em simultâneo embatendo as espadas num tilintar reluzente. Desferiam golpes de uma forma elegante e rápida, verdadeiros príncipes guerreiros em busca de um trono a qualquer preço.
Kastus estremeceu quando a lâmina da sua espada trespassou o corpo do seu irmão, sentiu a lâmina dentro si como se fosse a sua própria carne, numa agonia fria sem remorsos removeu a espada do corpo sem vida sobre uma saudação calorosa dos seus generais.
Horas mais tarde, o general Drakon que em tempos teria sido seu mentor entrava nos seus aposentos, um homem robusto de estatura alta e cabelo grisalho, entre cicatrizes e rugas transparecia o peso do tempo.
- Lord Erakis! A ordem foi dada, os assassinos confirmarão a morte de Rave Isakiel até o final do próximo dia, a ordenação estava destinada a um pequeno mosteiro junto aos bosques de Jak, com certeza é lá que ele se esconde.
- Ele foi o escolhido do meu pai para liderar, enquanto estiver vivo eu não me sentirei sossegado. Você compreende general, ele seria outro covarde como o meu pai foi. A grandeza de um povo não é contada pela perseverança da paz, mas sim pelo marco histórico das suas batalhas. O nosso povo dedicou os últimos dois mil anos à arte da guerra, de tal forma que somos os melhores do mundo a manifestar essa arte, não seremos mais mercadores de mercenários ao mandato dos outros reinos. Levaremos a nossa guerra a Vallars.
- Eu estarei do seu lado meu senhor, pela vida e pela morte.
Kastus mostrou satisfação perante o apoio dos seus conselheiros, guerreiros de todas as idades aguardavam ansiosos pelo retorno das batalhas. Kastus preenchia de uma forma perfeita o desejo que aguardavam. Um jovem soberano facilmente influenciável.

O dia amanhecia alugares entre os bosques de Jak, um veado pastava atento à natureza perigosa que envolvia os misteriosos bosques, como uma sombra invisível Rave movimentava-se por entre as árvores e arbustos. Os caçadores que se aventuravam pelos bosques usavam somente arcos e flechas, mas Rave apesar da enorme destreza que teria com o arco, era ainda melhor com as lâminas, avançava com as suas kukris, lâminas curvas pouco maiores que adagas. Os assassinos usavam-nas para degolarem os seus adversários surpreendendo-os por trás. Este seria o destino do veado, pouco mais de quinze metros os separavam por entre mato serrado. Rave escutava o pulsar do seu coração, tranquilo e sereno como se fosse o seu próprio. O animal não suspeitava da sua presença que se aproximava paciente num jogo em que raramente perdia. A lâmina passou como um relâmpago na escuridão, o animal não teve tempo de conhecer a causa da sua morte, desfalecendo rapidamente nos braços de Rave. Por entre os arbustos ao longe saltou uma figura que ia ganhando forma metro a metro. Um jovem dos seus treze anos aproximava-se radiante pelo triunfo do seu mentor.
- Consegui umas ervas aromáticas para o tempero! – Comenta ele num tom de orgulho exibindo-as na sua mão.
- Isso parece-me capim! – Comenta Rave num tom irónico. Antes que Alexis continuasse Rave interrompeu-o. – Procura lenha seca, faz mais falta que o tempero.
O mosteiro aguardava-os no fundo de um vale de árvores, pela paisagem verde cruzava-se um riacho selvagem que nascia por entre as montanhas onde terminavam os bosques de Jak. Parecia um terreno fácil para os assassinos penetrarem sorrateiramente e surpreende-los, mas Rave conhecia a sua casa, e antes que chegasse pousou o veado morto sobre a terra e desembainhou as suas espadas.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Lendas de Guerra – A unificação dos Reinos - Capítulo I

- Capítulo I –



Existia um certo encanto no horizonte verde que se estendia ao longo dos vales de Hellian por quilómetros inalcançáveis aos olhos de Tom. Um mundo mágico teria permanecido no oculto até ao incontornável momento do adeus, onde o contemplaria apenas nas calorosas lembranças carregadas pela saudade.
Acariciava o dorso dos cavalos robustos de seu pai, dentro de momentos teria de escolher um deles para o acompanhar na sua jornada rumo ao serviço do rei. Aos dezassete anos de idade teria se aplicado ao máximo para atingir o posto de cavaleiro e honrar o nome da sua casa do mesmo modo que outros antes dele o fizeram. Mas no entanto os dias eram difíceis, dias como nunca antes teriam visto, dias de guerra e de um amanhã cinzento e sombrio. O seu futuro teria lhe sido arrancado e daquele dia em diante viveria cada dia como o último, aguardando a cada instante o fim do seu percurso.
O seu pai teria em tempos regressado, de cabelos grisalhos, vastas cicatrizes, mancando de uma perna e com um sorriso extinto. A guerra teria lhe levado tudo mas tinha preservado a sua vida para que recordasse os seus horrores, esta era esperança de Tom, regressar um dia apesar das consequências, mesmo que fosse na condição do resto de um homem, ele queria essa oportunidade de escolher por uma vez na vida o seu próprio percurso, de construir sonhos alcançáveis, de até mesmo um dia amar alguém.
- Toma conta de ti! – Comenta a sua mãe Elen entre um abraço reconfortante, o seu pai Ted um pouco menos afectuoso apenas colocou-lhe a mão sobre o ombro, sem dizer nada falou apenas com os olhos. Tom sorriu tentando demonstrar um pouco de coragem e seguiu juntamente com a escolta que o aguardava ao cimo do terreno. – Até um dia! – Grita ela sobre um aceno com o vento espalhando os seus cabelos castanhos pelo seu rosto jovem, desaparecendo por entre a colina do seu destino.

Pela estrada que os conduzia ao reino de Vallars, Tom contemplou com alegria a incorporação do seu amigo Ned, o jovem cavaleiro escoltado por soldados da guarda real juntava-se a um exército de cento e cinquenta cavaleiros que iriam jurar lealdade ao rei Falcon, e defender as fronteiras do reino dos reinos do norte. O mundo enfrentava a sua maior disputa por terra e poder que alguma vez tivesse sido relatada, pactos e alianças eram traçados num palco de ódios e traições tão antigos que ninguém recordava a sua origem.
A guerra teria gerado homens terríveis, lendas e cânticos que eram entoados nos momentos de batalha procurando incentivar os mais jovens. Tom observava no final da viagem o vasto exército que o aguardava sobre a muralha de Vallars, teriam cavalgado durante dois dias recolhendo jovens reforços por toda Hellian. Uma vez terminada a viagem estavam agora diante do rei para prestarem o devido juramento.

O enorme campo arenoso permanecia assombrado pelo silêncio dos milhares de jovens sobre a presença do homem de cabelos brancos que descia do seu trono exibindo a sua coroa sobre aquela multidão de servos dispostos a entregar as suas vidas à sua vontade.
- Sejam bem-vindos a Vallars soldados, todos aqueles que juram lealdade a mim rei Falcon, senhor e majestade de todo reino ajoelhem-se. – Perante a ordem do rei aquela multidão se ajoelhou sobre a areia de cabeças baixas e um rígido respeito. Satisfeito até ao momento o rei prosseguiu. – Cavaleiros! Jurais defender o reino e o vosso rei enquanto viverdes contra todos os seus inimigos? – Sobre um grito estridente a multidão fez se ouvir. – Eu juro! – Pelo vosso juramento, a vossa vida pertence ao reino, e este juramento não pode ser quebrado em vida. Ergam-se agora cavaleiros de Vallars. – Sobre um grito de guerra os jovens levantaram-se em euforia. Tom trocou um olhar com Ned que lhe acenou em alegria, tinham acabado de assinar as sentenças que poriam um fim as suas vidas num futuro próximo. A guerra que os aguardava era lutada por homens que teriam sido gerados ao som das lâminas e ao sabor do sangue, ao calor do fogo e ao tenebroso cheiro da morte.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Lendas de Guerra

Num mundo medieval onde impera a lei da espada, o rastilho da guerra é novamente aceso quando o reino de Vallars decide investir na conquista dos reinos do Norte. Povos de diferenças étnicas, costumes e tradições juntam as suas forças numa investida contra o último rei da era disputando o maior conflito de todos os tempos. Apesar da extrema confiança de Vallars, o envolvimento da casa dos assassinos de Hazindor irá alterar o futuro de todos numa guerra onde desconhecidos serão heróis e através de sangue e fogo deixarão escritas as suas lendas.

Irei publicar um capítulo de cada vez online de modo a que a minha escrita consiga chegar a todos os que acompanham o meu trabalho.