sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Dois lados de um mundo




Estava distante… de ti… do mundo, perdido entre pensamentos vagos e perpétuos, tentando inconscientemente encontrar um retorno nos desígnios da vida. Subitamente os céus rugiram de uma forma impetuosa, sobre o choque das nuvens negras que cobriam a terra impondo o seu domínio sobre a escuridão.
Uma pequena brisa contornou os traços cansados do meu rosto como que me acariciando a pele pela sua passagem, com o seu toque suave e terno.
Na nostalgia do momento, na solidão que me consumia o espírito e que tentava lentamente desabrochar do seu próprio abismo, nesse momento o céu chorou.
As suas lágrimas que caiam sobre a minha pele me lavando o rosto, transformavam o mundo ao meu redor e subitamente despertei como que se tivesse caminhado num sonho profundo, num mundo distante da realidade, numa distorção da verdade. Vejo agora a guerra que me levou para longe de ti, do teu mundo, do nosso mundo. Onde as cores são vivas, onde o sol nos aquece a pele, nos conforta, onde escuto o riso das crianças pela manhã ao caminharem para a escola, nos seus pequenos passos, ambiciosos e ao mesmo tempo desprovidos de guia, de um sentido, pendentes ao amparo dos pais. Esse sonho, esse reflexo de uma memória que fere a alma, onde caminho lado a lado contigo de mãos dadas, e o mundo, esse… cabe na nossa mão.
Escuto agora o som da chuva forte, que se sobrepõe a todos os outros sons, o murmúrio dos homens que deambulam pela neblina foi ocultado pelo seu poder, pela sua magnitude, por essa natureza tão sublime que dá vida, e renova os corações com o seu canto.
Vejo-te agora claramente, o cabelo ondulado que te caí sobre os olhos com um espiral reluzente aos contornos do sol, da luz que resplandece o teu sorriso, dos teus lábios que estremecem o meu mundo pelo seu toque.
Preservo o meu nome como letras gastas, quase extintas, mas mantenho vivo esse teu perfume, a tua essência que vive dentro de mim, que me possuí e me entretece como um feitiço eterno, como uma masmorra da alma, da qual a chave, foi lançada nas profundezas da terra. Aqui… no fim do meu mundo respiro-te, e sinto-te, no toque da chuva, no sopro do vento, e na força da terra.


- Do outro lado do mundo -

Observo os meus passos na areia, esse rastro solitário, o toque morno da maré que sobe lentamente, do vento que sopra em vão, tentando alterar o rumo do mundo. Observo o despertar do sol no horizonte, aguardo que a luz te traga de volta aos meus braços. Que esse mundo cruel que te roubou de mim, te devolva num súbito gesto de misericórdia, de compaixão, de piedade. Que se sinta comovido pela nossa paixão, pelo nosso amor profundo. Que saiba esse mundo, que és a luz do meu mundo, que quando me roubou de ti, levou também o meu sol e me abarcou nessa escuridão, nesse ocultar dos sentidos. Na perplexidade de uma vida sem rumo, sem destino, sem sentido, sobrevivendo apenas da saudade, da esperança, da dolorosa memória que me visita a cada momento, a cada instante. Do sonho que momentaneamente me conduz de volta a ti, numa pequena imagem que me traz de volta esse mesmo sonho que um dia fomos, essa ilusão impossível que os homens não podem entender.
Está acima de todos nós, numa linguagem que por nós não pode ser escrita, porque por nós não foi tão pouco gerada.
Procuro o meu recanto, na solidão, no desespero e penso que vives. Imploro aos céus que sonhes como eu, que te transportes a esse reino de mil e uma cores que nos dá vida, e nos faz resplandecer na escuridão. Aguardo hoje… sempre… eternamente, por esse retorno que não pode ser negado, não pode ser esquecido, pois vives em mim e me dás vida. Nesse mundo sereno, ambicioso coberto de amor, que só existe através ti… de mim… de nós.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Neste Lugar

No ano de 2007 a exactamente 4 anos atrás, peguei numa guitarra e tentei expor o meu estado de espírito através da música que se manifestava mais facilmente que as palavras. Sem o devido tempo necessário para compor uma letra o resultado foi este...


Letra, melodia e voz
De Joel Flor

sábado, 15 de outubro de 2011

Mar Azul



Mar azul,
Que segredos em ti se escondem,
As ondas que encobrem as pegadas do destino
E ocultam as marcas do passado
Que palavras poderão descrever a tua grandeza
Esse mundo que te carrega e te sustém nos seus braços
O sol que reflecte em ti o seu rosto, cintilando sobre a tua imensidão
Como pérolas e diamantes
O vento que tenta te tocar como um amante perdido
Provocando as tuas ondas, fazendo-te acariciar a terra.
Deixa-me sentir a fragrância da tua natureza,
A tua presença indescritível,
Deixa-me tocar-te, sentir a tua força, a tua ira, a tua serenidade.
O som do teu canto, do teu desabrochar
Do teu encantamento sobre a força do vento
Do teu esplendor eterno.


Joel Flor

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Conto "A escolha"

O frio se instaurava pelas ruas estreitas de Lisboa como um intruso sorrateiro procurando consumir a ausência do sol, agora entregue ao seu repouso. Sofia regressava com duas amigas da noite de sexta-feira, alegres e donas do mundo. Tinham uma vida perfeita, Universidade, dinheiro dos pais, carros importados e pois claro, as sextas-feiras eram sagradas. A Carla murmurava-lhe algumas parvoíces ao ouvido quando a mesma é acometida de uma ânsia no estômago que estraga a diversão momentânea. Mais tarde entrando sorrateiramente pelas traseiras da vivenda dos pais em Cascais, joga-se com as suas roupas embebidas num o odor fétido de álcool e tabaco e desmaia num sono profundo.
Poucas horas mais tarde o sol se erguia na sua magnitude e força penetrando sobre as enormes portas de vidro, implacável sobre a sua fúria inquisidora, torturando o efeito de ressaca que despontava com uma terrível dor de cabeça. Por volta das oito horas da manhã a empregada Denise que teria sido ama pessoal de Sofia na sua infância mantendo-se depois ao serviço da família, entra no seu quarto, despindo-a e ajudando-a a chegar a um chuveiro. Alguns minutos mais tarde ela procurava novamente a Denise que a aguardava com o pequeno-almoço pronto na mesa, observando-a com, um ar preocupante.
- Não sei o que seria de mim sem ti Denise, estou de rastos. - Comenta Sofia sobre uma voz rouca.
Denise engole em seco antes de se pronunciar.
- Já tenho o resultado dos exames Sofia... deu positivo.
A jovem sustem o copo de leite que tinha entre os dedos suspenso e imóvel juntamente com o seu corpo e rosto pálido, lentamente procura uma cadeira cambaleando entre as pernas a uma altura em que gotas de leite salpicavam o chão espelhado.
- Falaste alguma coisa aos meus pais?
- Não, mas esperava que tomasses esse passo o mais breve possível.
- Acho que não conheces bem os meus pais Denise. Isto seria o fim, na minha família nunca houve uma mãe solteira aos dezoito anos. Tem de haver outra solução!
- Que solução Sofia, daqui uns meses vai se notar!
- Não é isso que eu estou a dizer.
Denise observa-a não querendo acreditar no que ela queria dizer. Aquela não era a criança que teria ajudado a criar como se fosse sua filha, talvez mais que os próprios pais, indiferentes aos seus erros.
- Eu não posso decidir por ti, mas para uma decisão dessas podes esquecer a minha ajuda. Nesse tema considera-te só porque jamais irei te apoiar.
Sofia lançava-lhe um olhar furioso, sentia-se desesperada e desamparada. O seu mundo perfeito teria desabado sobre os seus pés como um castelo de areia e ela que sempre tinha tido tudo e todos agora estava só. O pai da criança que se formava no seu ventre era um desconhecido, um jovem alto de traços esbeltos que teria conhecido numa discoteca, no entanto não recordava o seu e nome e o seu rosto desfigurava-se aos poucos na memória.
Meditando mais tarde a sós sobre a situação que se deparava, tomou um impulso de coragem ou talvez covardia e procurou uma clínica ilegal especializada em abortos, longe de casa e discreta, justificar o alto valor que iria sair da sua conta poupança era de longe o pior dos problemas, os pais eram completamente ausentes da sua vida, um casal de estranhos que partilhava a mesma casa e comunicava de um modo geral por bilhetes colados na porta de um frigorífico. Naquela tarde não foi diferente, um bilhete escrito, "Vou passar o fim-de-semana com a Carla!" resolvia o problema sem grandes questões.
Algumas horas mais tarde chegava de táxi a um condomínio fechado com umas instalações decentes que transmitiram um pouco de tranquilidade e confiança no trabalho que ia ser feito. Um assistente acompanhou-a à sala de operações onde iria decorrer a cirurgia. Tudo decorria rapidamente, sem dar tempo que pensar no que ia ao certo fazer. Tinha tomado um impulso procurando uma solução e a solução tinha ganho cor e forma em minutos. Limitava-se a pensar que após umas horas de repouso tudo voltaria a ser como antes e rapidamente esqueceria aquele dia sombrio.
Um médico sorridente e simpático entrou na sala, falava como um vendedor de seguros que tentava quebrar o desconforto do momento com piadas e comentários engraçados gerados a vapor. Apesar do à vontade em que esbanjava numa intimidade excessiva, por momento algum se identificou.
- Vai correr tudo bem, vou te injectar o soro, vais adormecer rapidamente e quando acordares já estará tudo feito, vais ter de ficar só um dia de repouso e pronto estás livre para ires à tua vida.
Sofia assentiu com a cabeça sem ter certeza de nada, dentro de si se encontrava uma pessoa aterrorizada numa guerra contra a sua própria consciência. Nunca teria tomado uma decisão tão adulta até aquele dia, e o facto de estar só desabava a sua fraca estrutura psicológica. Os milhões de pensamentos que cruzavam a sua mente afundaram-se num lago momentâneo à medida que o líquido branco do soro penetrava as suas veias sem um prévio convite, perdeu imediatamente os sentidos desmaiando num sono profundo e sereno.
Acorda subitamente deitada sobre um campo pintado de flores de todas as cores sobre um sol acolhedor e confortante, a bata branca de paciente teria sido trocada por um belo vestido branco de seda comprido até aos pés que se movimentava aos contornos do vento que suspirava como o ressonar de uma criança, os pássaros cantavam diferentes tipos de canções, melodias doces que transmitiam paz numa sintonia divina. Por entre as relvas algo se mexia sem que pudesse ser visto, não lhe provocava receio, apenas curiosidade por entre a que já se havia instaurado naquele cenário deslumbrante, poderoso e tão longe do toque humano.
A medida que aquele remoinho sobre a vegetação se aproximava de entre as relvas e flores saltou uma criança, um rapazinho de cabelos loiros e olhos esverdeados, tinha um sorriso meigo olhando-a de relance, num gesto de reconhecimento e provocação, saiu correndo novamente por entre as flores mergulhando naquele arco-íris terrestre e ao mesmo tempo divino perdendo-se entre sorrisos que se dispersavam naquela vastidão de todas as cores da natureza.
Foi então que a imagem de um homem se formou por entre flores que subitamente se envolviam num remoinho de luzes crescendo com delicadeza ganhando forma e vida. Um ser de aparência humana emergiu daquele tornado de cores pronunciando-se com uma voz que foi soando humana a cada palavra que proferia, à medida que se formava.
- Olá Sofia, que bom te ver aqui, esperei muito por este encontro. – Comenta aquele ser.
- Quem és tu? - Pergunta ela atónita.
- Hoje essa será de longe a mais importante das respostas que deves ouvir. O mundo se revelou a ti num segundo mostrando-te o terror e o medo que impõe quando te tira algo com o qual não julgamos ser capazes de viver. Mas a determinada altura todos os homens acham que chegaram ao limite daquilo que julgariam suportar, no entanto sempre nasce um novo dia que prova que estão errados. Sofrer é natural, é humano, é quase necessário no percurso de cada um. Agora as escolhas que tomamos essas sim, temos de ter cuidado com elas, pois uma escolha pode mudar o mundo, uma escolha persegue-nos até ao fim.
Um pouco confusa com toda aquela informação exposta de um modo intenso e claro, ela foge ao assunto com aquilo que lhe ocupava a mente.
- Aquela criança? Isto tudo... è irreal!
- Os sonhos são irreais, depende do ponto a que estás disposta a ir para torná-los reais.
- Um momento pode ser real, e irreal no segundo seguinte. Tudo depende das escolhas que tomamos, são elas que ditam as regras do que é e não é possível.
- Ele é o meu filho? - Questiona ela trémula e incrédula!
- Sim... poderia ter sido! Mas essa escolha, tu já tomaste. Não tens como voltar atrás.
- Porquê que isto está a me acontecer?
- Porque até ao dia de hoje foste uma pessoa desprezível, nunca pensaste em alguém para além de ti, do teu futuro dos sonhos superficiais que se desvanecem em pó, das amigas que te acompanham, mas temes revelar os teus tenebrosos segredos. Da imagem exterior que valorizas tanto. Tudo isso o tempo destrói.
- Isto è um sonho, eu não acredito nessas coisas.
- Como muitas outras pessoas nunca tiveste a necessidade de acreditar, sempre foste atrás das soluções práticas.
- Mas se eu já tomei a minha escolha, porque é que estamos aqui?
- Porque a partir do momento em que olhaste aquela criança nos olhos, sentiste a dimensão do amor de uma mãe, como por um segundo, por isso é que ela não saí da tua cabeça, pela tua capacidade de amar já te transformaste numa nova pessoa.
- Fala-me mais dessa criança. Como é que sabes que ele existe se a escolha já foi tomada?
- Porque eu não tomo escolhas, eu conheço o passado, o futuro e o presente, tudo me è revelado por isso não preciso escolher.
A tua próxima pergunta é: O que será que aconteceria se eu escolhesse ter esse filho. Irias sofrer, os teus pais te rejeitariam, irias morar num bairro degradado, sem condições mas terias a maior riqueza desse mundo.
- Deixa-me vê-lo!
Aquele ser aproximou-se dela colocou-lhe as mãos sobre a testa e subitamente o mundo se transfigurou, num segundo viu o filho crescer, ir para a escola, começar a namorar, entrar na universidade, pedir alguém em casamento e ser um homem exemplar, amado…
- Isto é o que muitas pessoas podem ser, no entanto ele seria muito mais do que isso, se tivesse tido a oportunidade de viver.
- Como assim?
- Daqui 30 anos irá se propagar um vírus mortal chamado XV, esse vírus vai dizimar 6 mil milhões de pessoas, até que por fim eliminará por completo a raça humana. Dentro de 40 anos não haverá um ser vivo na Terra.
Sofia escutava trémula e incrédula toda aquela informação que lhe era dada. Sentindo-se cair sobre o chão sem forças.
- O teu filho se existisse seria o Doutor Leonel Silvestre, ele estava destinado a encontrar a cura, mas através de uma escolha, o destino do mundo mudou?
- Eu sou responsável pelo fim da humanidade?
- O fim da humanidade tem tanto de previsível como de inevitável. Tu és responsável pelas tuas escolhas.
- Estou perante o meu julgamento?
- Não, estás perante uma segunda oportunidade.
- Eu farei tudo para concertar os meus erros, prometo! Não me deixes terminar assim, eu vou viver em função dessa criança, se for preciso morrerei em função dessa criança também.
- Então, assim seja!
Sofia despertou subitamente deitada sobre aquela máquina observando o médico!
- A cirurgia…
- Calma, vai correr tudo bem, vou te injectar o soro, vais adormecer rapidamente e quando acordares já estará tudo feito, vais ter de ficar só um dia de repouso e pronto estás livre para ires à tua vida.
            Quando o médico descia com aquela injecção Sofia agarra-o pelo braço empurrando-o violentamente.
- Afasta-te de mim.
Olhando-a surpreendido o médico observa-a afastando-se e saindo pela porta principal.

Dez anos depois…

Sofia residia num T0 com o seu filho Leonel, trabalhava de dia num supermercado e de noite num bar, de madrugada chega a casa deparando-se com a luz cortada por falta de pagamento, procurando o seu filho o mesmo encontrava-se na varando com duas velas acesas uma de cada lado.
- Não estás dormir ainda seu maroto?
- Mãe, porquê que temos de passar por tanta necessidade, enquanto outras crianças tem tudo.
Sofia envelhecida, vinte quilos mais gorda observa o seu filho sentindo as lágrimas caírem sobre o seu rosto numa sensação de fracasso para com ele. O Leonel sorri com o mesmo sorriso que teria contemplado pela primeira vez naquele campo de flores e luzes.
- Não fiques triste mãe, olha para aquele céu estrelado, faz de conta que é o nosso tesouro.
- Tu és o meu tesouro, a minha riqueza, no meu coração és maior que o céu e a terra, e enquanto te tiver a ti… terei tudo.









Joel Flor



domingo, 2 de outubro de 2011

Confiança


A sombra da dúvida
Destrói a verdade
Estremece a confiança
Contamina o amor
E desencadeia guerras.

Vive...
Deita tudo a perder por amor
Corre riscos
Abraça os sonhos
Segue esse instinto rebelde
Erra e volta a errar
Constrói projectos
E desenha o teu futuro
Porque esse enorme horizonte
Pertence-te a ti.
 
Joel Flor