domingo, 12 de fevereiro de 2012

Lendas de Guerra - A unificação dos Reinos - Capítulo V

- Capítulo V –




Tom e Ned permaneciam exaustos em silêncio com os olhos vidrados sentados sobre um chão arenoso, aquecendo-se ao calor da lareira. Os corpos dos cavaleiros continuavam a ser removidos do campo. Ambos contemplavam o cenário horrível que se estendiam por vários hectares. Teriam perdido mais de duzentos soldados numa batalha que devia ter corrido doutra forma, mas o importante para quem não se preocupa com os números é que tinham ganho. A história seria o que quer que eles quisessem. Os mortos não iriam poder deixar os seus relatos. No entanto sobre Tom e Ned, ninguém iria precisar mentir.
Batedores foram enviados tentando procurar o rastro dos arqueiros que teriam abatido os cavaleiros no confronto, pela primeira vez na história os selvagens actuavam em conjunto com outra força, uma força desconhecida que recordava uma antiga lenda.
Os dois rapazes levantaram-se prontamente sobre a presença do comandante Anglus que surgiu diante deles…
- Meu comandante!
- À vontade rapazes! Estamos todos muito orgulhosos da maneira como vocês combateram naquela frente e eu não sou de paparicar ninguém. Mas já vi veteranos de guerra borrarem-se todos perante um cenário semelhante. Iria perguntar onde aprenderam a combater mas o teu sobrenome fala por ti.
- O meu sobrenome?
- Sabes ao menos quem o teu pai foi? O que ele fez por este reino?
- O meu pai ainda é! Eu sei quem ele é!
- Como eu disse… o que ele foi, não o que ele é.
Os jovens permaneceram em silêncio perante aquela afirmação repentina e inesperada, no entanto convicta. Tom sabia que o seu pai tinha sido cavaleiro como ele, e isso era tudo. Mas pelo que parecia estava prestes a descobrir algo mais.
- O teu pai foi um pioneiro na guerra para além das fronteiras. Ele liderou batalhões por todo o reino do norte e nunca perdeu uma batalha. Nem mesmo os assassinos de Hazindor conseguiram por um fim à sua vida. Os que tentaram morreram na tentativa.
O comandante falava de Ted MCcalan, com uma certa vaidade, um certo orgulho. Mas Tom recordava lentamente as histórias das atrocidades que teriam sido feitas por Vallars no norte, aldeias queimadas juntamente com mulheres e crianças. As acções que teriam unificado os reinos e gerado o ódio entre os povos. Nenhum exército teria alguma vez derrubado Hazindor, ou tomado o forte do lorde Murtosa em Essin. As vitórias teriam sido arrancadas sobre o sangue dos inocentes. Tom tentava ocultar o seu constrangimento ao seu comandante. Sabia que nem sempre devia dar atenção aos rumores e acreditava que conhecia melhor o seu pai do que Anglus.
- Obrigado comandante! Fico feliz por saber que somos de bom uso ao reino.
- Mantenham-se vivos. A cada passo que dermos agora estaremos cada vez mais longe de casa e mais no coração dos inimigos. Estes eram selvagens que nunca tiveram instrução decente de como manejar uma espada. Não é nada disto que iremos encontrar em Essin.
- Estamos cientes do perigo meu senhor. Daremos o nosso melhor!
- Ainda bem! Agora descansem, amanhã avançamos.

Pela noite sonhos perturbadores visitavam a consciência de Tom, sombras inquisidoras acusavam-no de assassinato perseguindo e atentando à sua vida. Escutava o grito dos inocentes sobre as espadas que se abatiam sobre eles. Desperta subitamente sobre suores num medo contido, medo tal que não teria sentido no campo de batalha, mas o visitava agora nos seus pensamentos. Tentou pensar em Kyla, a jovem com quem teria estado antes de partir para a guerra, de quem não teve oportunidade de se despedir e que daria tudo para voltar a vê-la. Envolto naquela última lembrança, naquele último toque, ele sentiu a calma o receber num abraço caloroso, deixando a escuridão e a inquietude para trás.

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