quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Em busca do horizonte Azul - Parte III

           Despertou por entre a luz ténue de um amanhecer cinzento que resplandecia pequenos raios de luz por entre as cortinas de fumo. Por mais que parecesse o fim de todos os tempos, um novo dia era sempre um novo dia. Procurou pelo lobo ao seu redor mas as restava apenas as marcas no chão de onde havia passado a noite. Estava em dúvida se teria mesmo estado ali, ou se seria apenas parte do seu sonho, da sua noite longa e tranquila.
                Estava bastante fraco, falta de alimento e água limpa. Os seus pés em sangue eram fruto de uma longa caminhada por aquele chão que em tempos foi o enorme continente americano. A terceira guerra mundial não tinha corrido muito bem para a humanidade e mãe natureza, a superfície da terra tinha mudado, oceanos tinham secado e a radioatividade que dizimou sessenta por cento da população mundial tinha-se levantado e manchado o céu de cinzento. Alguns cientistas diziam que iria levar algumas décadas para que a radioatividade começasse a dissipar. Mas em pouco tempo os sobreviventes deixaram de contar os anos, o ser humano regrediu ao seu estado mais selvagem, matavam por uma simples lata de sardinhas fora do prazo, ou outro qualquer recurso que pudesse melhorar a condição de alguém por mais um dia. No entanto a maior causa de morte era sem dúvida o suicídio. Havia rumores de que a radioatividade cobria toda a América do Norte, mais de metade da América do Sul, a Europa Ocidental e o Norte do continente Africano. No entanto os rumores já estavam gastos e velhos. Ninguém teria vindo em busca de sobreviventes, e a esperança dos poucos que lutavam para sobreviver acabou também por morrer.
                Tudo isto tinha permanecido ausente da sua mente, como um livro fechado que a memória não queria visitar. Esta era a história do mundo que em tempos conheceu, no entanto a sua história era a sua força que o fazia caminhar por aquele horizonte sem fim, em busca de algo que mais ninguém procurava. Nos calabouços da sua alma ele recordou o seu nome e sua história: “Jason MCcalen” proferiu ele entre murmúrios…
                A sua memória conduziu-o a poucos anos atrás. Uma nação em pânico, um aeroporto caótico, multidões atropelando-se descontroladamente num cenário aterrador. Mas subitamente o mundo e o seu ruído pararam naquele momento em que ele as segurou nos seus braços, uma mulher e uma criança de quatro anos…
                - É melhor correrem para o embarque. O pouco controlo que há vai ceder em breve, depois duvido que qualquer avião consiga decolar. – Comenta Jason.
                - Sabes que eu te amo, não sabes?
                - Sim Cíntia, eu também te amo, prometo que logo que possível vou ter convosco.
                Beijou a sua filha Sophie apertando-a nos seus braços e encaminhou-as para o portão de embarque. Viu las afastarem-se, como se o seu coração tivesse parando lentamente. Tentou segurar as lágrimas, pelo menos até que elas desaparecessem por entre as portas. No entanto Cíntia voltou-se uma última vez e sorrindo gritou-lhe: “Vemo-nos no Rio de Janeiro”. Aquele foi o último segundo, o seu último sopro de vida e tragicamente também o seu último sol dourado. No fim daquela tarde as bombas caíram do céu e mudaram brutalmente a face da terra.
 
(Joel Flor)

Nenhum comentário:

Postar um comentário