quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Em busca do horizonte azul – Parte I

              Permaneceu… Observando aquele vasto horizonte perdido entre ruínas, coberto por um céu pintado de cinzento. A ausência de cor e vida transformava o passado do seu mundo numa memória que se afundava lentamente no poço do seu conhecimento, a sua vivência desintegrava-se a cada suspiro contido.
                A marca das suas pegadas desfazia-se lentamente sobre o sopro daquele vento mudo. Era indiferente, não havia caminho de regresso, nem nada a que regressar. Num só golpe evaporou-se o passado e o futuro. A sua história? Teria de reescrevê-la sobre as cinzas, não havia o que entender ou escolher, tinha apenas de aceitar. Continuar a viver na ausência da vida, ou render-se as consequências do seu tempo. Ninguém iria recordar o seu nome, nem a sua força, a história não iria registar a sua existência. Restava-lhe apenas a sua consciência.
                Então sentou-se sobre uma rocha lisa, observando o seu reflexo sobre um caco de espelho partido que ofuscava-o cintilante entre as cinzas como um farol na escuridão. Por entre o brilho de um reflexo contemplou o resto de um homem, um homem que teria conhecido em tempos, numa outra vida, num mundo distante. Uma dor profunda afligiu-o num pranto contido. Ajoelhou-se colhendo aquele caco de vidro espelhado e encostou-o ao seu pescoço, preparando-se para destruir o que restava da sua vida.
                - Lamento muito Cíntia. – Profere ele entre lágrimas.
                Antes que terminasse observou a pouco mais de cem metros o lobo cinzento que o seguia a vários dias. Provavelmente aguardando impaciente que ele morresse proporcionando assim algum alimento as demais criaturas que vagueavam a terra.
                O lobo avançou caminhando lentamente na sua direção, dando-o talvez como um dado adquirido. Pelo menos um dos dois tinha certeza de alguma coisa. A sua mente questionou-se sobre a diferença entre homem e animal. Ele possuía consciência das coisas o animal apenas o seu instinto de sobrevivência, devia estar um passo à sua frente, mas no entanto ali estava ele a ser estudado como um rato de laboratório. Talvez fosse mais fácil não ter memória nem sonhos, ter somente objetivos a curto prazo como o seu companheiro de viagem. O seu objetivo era sobreviver o dia de hoje. Para que o objetivo fosse comum, apenas um deles iria continuar a sua viagem.
                Naquele momento ele afastou o caco de vidro do seu pescoço, e decidiu que naquele dia em que escrevia a ultima página da sua vida, naquele dia cinzento, ele queria viver.
 
(Joel Flor)

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