Permaneceu… Observando aquele vasto horizonte
perdido entre ruínas, coberto por um céu pintado de cinzento. A ausência de cor
e vida transformava o passado do seu mundo numa memória que se afundava lentamente
no poço do seu conhecimento, a sua vivência desintegrava-se a cada suspiro
contido.
A marca das suas pegadas desfazia-se lentamente sobre o sopro daquele vento mudo. Era indiferente, não havia caminho de regresso, nem nada a que regressar. Num só golpe evaporou-se o passado e o futuro. A sua história? Teria de reescrevê-la sobre as cinzas, não havia o que entender ou escolher, tinha apenas de aceitar. Continuar a viver na ausência da vida, ou render-se as consequências do seu tempo. Ninguém iria recordar o seu nome, nem a sua força, a história não iria registar a sua existência. Restava-lhe apenas a sua consciência.
A marca das suas pegadas desfazia-se lentamente sobre o sopro daquele vento mudo. Era indiferente, não havia caminho de regresso, nem nada a que regressar. Num só golpe evaporou-se o passado e o futuro. A sua história? Teria de reescrevê-la sobre as cinzas, não havia o que entender ou escolher, tinha apenas de aceitar. Continuar a viver na ausência da vida, ou render-se as consequências do seu tempo. Ninguém iria recordar o seu nome, nem a sua força, a história não iria registar a sua existência. Restava-lhe apenas a sua consciência.
Então sentou-se
sobre uma rocha lisa, observando o seu reflexo sobre um caco de espelho partido
que ofuscava-o cintilante entre as cinzas como um farol na escuridão. Por entre
o brilho de um reflexo contemplou o resto de um homem, um homem que teria
conhecido em tempos, numa outra vida, num mundo distante. Uma dor profunda
afligiu-o num pranto contido. Ajoelhou-se colhendo aquele caco de vidro
espelhado e encostou-o ao seu pescoço, preparando-se para destruir o que
restava da sua vida.
- Lamento muito
Cíntia. – Profere ele entre lágrimas.
Antes que terminasse
observou a pouco mais de cem metros o lobo cinzento que o seguia a vários dias.
Provavelmente aguardando impaciente que ele morresse proporcionando assim algum
alimento as demais criaturas que vagueavam a terra.
O lobo avançou
caminhando lentamente na sua direção, dando-o talvez como um dado adquirido. Pelo
menos um dos dois tinha certeza de alguma coisa. A sua mente questionou-se
sobre a diferença entre homem e animal. Ele possuía consciência das coisas o
animal apenas o seu instinto de sobrevivência, devia estar um passo à sua
frente, mas no entanto ali estava ele a ser estudado como um rato de laboratório.
Talvez fosse mais fácil não ter memória nem sonhos, ter somente objetivos a
curto prazo como o seu companheiro de viagem. O seu objetivo era sobreviver o
dia de hoje. Para que o objetivo fosse comum, apenas um deles iria continuar a
sua viagem.
Naquele momento
ele afastou o caco de vidro do seu pescoço, e decidiu que naquele dia em que
escrevia a ultima página da sua vida, naquele dia cinzento, ele queria viver.
(Joel Flor)
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