quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Conto "A Sombra dos Heróis"




Prefácio

No ano de 2004 terminava assim a minha primeira grande obra literária, de nome “Águias de Ferro” um livro que daria aproximadamente duzentas páginas com uma história fantástica e emocionante carregada de ficção e acção. Com o passar do tempo e com a maturidade que absorvi dos livros que me inspiravam, tornei-me um pouco mais exigente comigo mesmo e a hipótese de publicar este livro transformou-se numa ideia quase nula. Uma vez que as alterações teriam de passar pela estrutura, pelo tipo de linguagem, no tempo que esse processo me tomaria poderia escrever dois ou mais livros o que acabei no final por fazer.
            O conto “A sombra dos heróis” veio deste modo dar vida as essas personagens esquecidas que deixei no fundo de uma gaveta e talvez um pouco de inspiração para que um dia esse projecto tome um novo rumo e ganhe vida. Espero que apreciem este pequeno número de páginas que estarão ao vosso dispor.


Um abraço do amigo e escritor
Joel Flor




Parte um


                Matt não conseguia mais distinguir o verão do inverno, a noite do dia, o destino teria lhe dado a conhecer as estrelas que em criança tão fervorosamente venerava, deleitando-se nas suas próprias histórias. No século XXII, cresceu ouvindo lendas de uma guerra distante, que era travado no espaço entre a humanidade e uma nova raça. Felizmente, até ao momento um confronto na Terra tinha sido evitado. Mas a guerra permanecia e o seu fim não acenava para quem o procurava.
 Matt formou-se na academia militar. Com a idade de vinte e seis anos o seu primeiro nome era tenente, despediu-se dos seus pais e da namorada Christine e partiu para as estrelas. Após um ano no espaço, chegou a informação do paradeiro de um coronel destemido que teria se perdido entre a guerra juntamente com a sua elite, “A elite dos bravos” como era chamada, havia sinal de actividade num planeta vermelho num sistema inactivo sem vida, o inimigo de nome Arakuness, uma forma de vida inteligente e extraterrestre combatia outra forma de vida desconhecida. No entanto os radares não detectavam seres humanos no planeta. Não havia registo de confrontos internos entre Arakuness, eram diferentes dos homens, lutavam por um propósito final, e agiam sobre um comando apenas. A curiosidade dos líderes moveu o batalhão de Matt para o terrível destino desconhecido, em busca de um guerreiro que por si só, poderia alterar o curso da guerra.
                O enorme vaivém espacial aterrou sobre o planeta, um pelotão de quinhentos soldados emergiu do interior ao comando do Capitão Raines, a guerra tinha sido travada até ao momento a milhares de anos de luz da Terra nos últimos vinte anos. Raines um soldado em fim de carreira tinha sido um dos poucos que teria visto um Arakuness, o enorme exército humano teria sido quebrado por uma disputa de colónias e só agora começavam a preparar-se para reivindicar os planetas do sistema perdido. Da guerra restava apenas a lenda contada pelos poucos sobreviventes. Os restantes quinhentos nunca teriam visto um inimigo e alguns começavam até mesmo a duvidar da sua existência.
                Todo o mistério foi quebrado quando um grito aterrador emergiu entre os rochedos que se estendiam por todo o horizonte, um enorme Arakuness despertou sobre aquele fecho de luz vermelho que separava o céu da terra. Rapidamente ceifou seis vidas que não tiveram tempo de ver a morte. Uma quantidade enorme de fogo foi descarregada sobre aquele ser, quando o último tiro cessou o exército apercebeu-se que não se acolheu no silêncio anterior. O chão tremia sobre a terrível marcha dos Arakuness. Sem armas de fogo marchavam sobre os humanos com um único propósito, eliminá-los a todos.
                O pânico momentâneo foi fatal, os extraterrestres cercaram-nos por todos os lados. Num movimento inteligente quebraram as defesas e penetraram no coração do exército. Raines não teve oportunidade de criar um raciocínio, tinha sido arrastado para um confronto directo e desproporcional  à preparação dos seus soldados. Estava cada um por si contra uma força letal que desconheciam. Os soldados tinham uma curta margem de tiro e estavam a morrer rapidamente sem oportunidade de criar baixas no adversário que numa distância curta era praticamente indestrutível.
                Por cima da colina o grupo de homens observava-os através de um binóculo…
- Os Arakuness estão em confrontos!
- Confrontos contra quem? – Questiona o coronel Scott a quem procuravam durante todos aqueles anos.
                Segurando os binóculos um sentimento de espanto assoma-o…
                - É impossível!!!
                - O que se passa?
                - Vejo bandeiras da Aliança!
                Numa altura em que os seus soldados já preparavam canhões de longo alcance para quebrar a investida dos Arakuness um grito urgente de Scott interrompeu-os…
                - CESSEM FOGO! Preparem-se para combate directo!
                Os soldados trocaram um olhar inquieto e surpreso de leves segundos e apressaram-se a obedecer o coronel sem saber o que se passava. Scott montou sobre uma mota e liderou a marcha do seu pequeno exército de trinta homens. Todos tinham um ar marcado pela guerra. Tony era metade humano, metade robô, uma operação teria poupado a sua vida após ter sido estilhaçado por uma explosão, teria o feito mais forte do que antes, mesmo na distância que o afastava da humanidade, Scott sabia que ele o seguiria até a morte.
                Dum salto elegante Scott libertou duas lâminas longas que teriam sido desenhadas e projectadas somente para aquele propósito, caindo entre quatro Arakuness eliminou-os em segundos. Os restantes soldados penetraram no coração da batalha numa força letal. Matt estava estendido sobre o chão com um Arakuness colocando a pata sobre o seu peito, a enorme garra da criatura estava encostada ao seu pescoço pronto para o degolar. Antes que visse a sua vida expirar, o coronel Scott passou por eles em velocidade e cortou a cabeça daquela criatura. Trocou uma breve troca de olhares com o soldado e prosseguiu rapidamente contra a frente dos Arakuness. Matt permanecia sentado no chão incrédulo e sem forças. Teria crescido a ouvir as histórias de Scott e agora ali estava ele, no primeiro encontro ainda lhe salvava a vida. Após breves minutos Scott cessava a investida e num grito forte dava a ordem “RECON”, os soldados sabiam então que estava terminado. Observando os sobreviventes de Raines, Scott pronunciasse…
                - Quem é que está no comando?
                Por entre as sombras coberto de sangue, mancando de uma perna que iria perder brevemente Raines aproximou-se…
                - Capitão Raines, viemos de muito longe coronel, estamos aqui para levá-lo para casa.
                - Só demoraram quinze anos, estou pasmo!
                - Não tínhamos qualquer informação do seu paradeiro, o que lhe aconteceu?
                - Foi nos dado a ordem de guardar a estação espacial “New World” até que os reforços chegassem. Eu não questiono as minhas ordens, no entanto os reforços nunca vieram e nós fomos abandonados à morte. Depois de perdermos a estação a nossa nave despenhou-se neste planeta ficando inutilizável, temos tentado sobreviver até hoje, de tal forma que os Arakuness acabaram por perder o interesse.
                Raines registava toda aquela informação, incrédulo no que aquele pequeno número de soldados teria feito. Teriam salvo 349 homens pela sua intervenção quando na verdade eram eles que deveriam ser salvos.
                Matt observava-os um por um, teria visto o funeral de Scott nas televisões em que um caixão vazio descia à sepultura sobre as lágrimas de uma esposa e um casal de crianças. O dia em que o mundo chorou o único herói que havia conhecido.  A guerra teria lhe tirado tudo, teria dado a sua vida para a servir, mas mesmo assim na sua devoção a humanidade abandonou-o. Observava cada um dos soldados, não havia vida nos seus olhares, esperança ou qualquer sentimento. A estação New World tinha morrido com todos eles.
                Havia uma certa energia que rondava aquele planeta, o ar era pesado e segundo o médico de serviço, um homem não sobreviveria mais do que duas semanas inalando aquele oxigénio contaminado, não havia sinal de existência de água, muito menos de qualquer fonte de alimento. Quinze anos eram muito tempo para qualquer homem resistir de uma forma impossível. Cada elemento que rodeava Matt tornava aquele momento mais misterioso e difícil de decifrar.
                A noite desceu rapidamente de um momento para o outro, Raines e Scott conversavam em particular nos aposentos do coronel dentro do pequeno acampamento. Os soldados já se teriam recolhido no vaivém aguardando impacientemente partirem daquele mundo amaldiçoado. Matt observava o céu vermelho, pensou que fosse onde quer que estivesse o céu seria sempre o mesmo, no entanto ali estava ele, contemplando outro universo completamente distinto, tão longe de casa e de tudo o que tinha conhecido. O Capitão saiu da tenda do coronel indiferente. Scott saiu em seguida aproximando-se de Tony o cyborg.
                - O que vamos fazer? – Questiona Tony na sua voz metálica.
                - Não temos qualquer propósito aqui, esperámos todos os dias por essa nave. Agora que ela veio só nos resta partir.
                - Não sei, acho que não me enquadro muito no perfil de um habitante da Terra.
                - Lembra-te que os teus amigos estão contigo, não te abandonei antes, não será gora também. O que outros dizem e pensam pouco importa. Prometi que vos levaria todos para casa um dia, ninguém fica para trás.
                - Então e a guerra?
                - Nunca estivemos destinados a vencer. Lutarei no dia que ela bater a minha porta, no meu planeta. Não voltarei a procurá-la nos confins do universo.
                Aquele cyborg permaneceu em silêncio, não demonstrava emoções, apenas assentiu em concordância.
                Matt teria sido instruído para inspeccionar o campo de batalha uma última vez antes de partirem. Em busca de itens e armas que não convinham estar ao dispor dos Arakuness, caminhando lentamente entre aqueles corpos, denotou que os soldados humanos tinham desaparecido, excepto um que estava de pé observando o horizonte. Permanecia imóvel e emotivo, Matt aproximou-se rapidamente dele assustado perguntou-lhe o nome e o soldado respondeu calmamente…
                - Sargento Hank, tenente.
                - O que aconteceu sargento? Porque não seguiu as tropas como foi indicado a todos?
                - O que aconteceu aqui tenente está para lá de qualquer explicação que eu lhe possa dar. Eu senti a lâmina trespassar o meu coração, senti a vida expirar no meu último fôlego. Existe qualquer coisa neste mundo que nos impede de discernir o real do impossível. Não sei se estou a sonhar, ou se estamos mesmo vivos.
                Matt mantinha-se atónito e incrédulo aproximando-se do soldado segurou-lhe no pulso na esperança de lhe dizer “Se tens pulso é porque estás vivo soldado, agora vem que tens algumas explicações a dar.” Mas tal não aconteceu, um calafrio arrebatou o seu corpo quando procurou o pulso de Hank e não o encontrou.





Parte dois


                Matt apressou-se ao alcance do vaivém sem saber ao certo o que iria fazer ou que relatório iria transmitir a Raines. De uma coisa estava certo. Nunca deveriam ter pisado aquele planeta.
                Segurou Raines pelo braço forçando-o à sua atenção, Raines devolveu-lhe um olhar preocupante…
                - O que se passa?
                - Existe algo de errado aqui. Os corpos na colina desapareceram todos… e temos um soldado caminhando sem pulso, que supostamente teria sido dado como morto a algumas horas atrás.
                - Isso não faz qualquer sentido Matt. Onde é que está esse soldado?
                - O que não faz qualquer sentido é os homens de Scott terem permanecido vivos neste mundo durante quinze anos. Não faz sentido o Scott ter cinquenta anos e aparentar trinta.
                - Qual é a tua teoria sobre isto?
                - Eles nunca sobreviveram há batalha de New World, Raines. Este planeta é um planeta que dá vida a quem já não a tem. Esta energia estranha que sentimos mas não conseguimos ver alimenta a imagem daquilo que um dia fomos.
                - Talvez alimente apenas a ilusão daquilo que esperamos ver.
                - Isto não é uma ilusão. É real!
                - Vamos conversar com ele então, com o Scott.
                - Não acredito que isso seja prudente. Ele pode saber e pode ternos ocultado até ao momento, o coronel pode ser mais perigoso do que alguma vez imaginámos.
                - Perigoso ou não, ele salvou-te a vida, devias estar um pouco mais grato por isso.
                Matt silenciou-se sobre o peso daquelas palavras, no entanto não sabia qual seria as consequências de nada fazer. Não sabia até que ponto poderiam ou não estar envolvidos os Arakuness naquele fenómeno sobrenatural. Mas ele tinha de ter a certeza que o Scott estava vivo ou não. Tinha treinado a sua vida inteira para chegar até ele, não ia fracassar por falta de evidências. Ignorou o Raines e aproximou-se do compartimento onde Scott estava reunido com os seus homens, entrando sem se anunciar foi surpreendido por uma enorme lâmina encostada ao seu pescoço. Tony observava-o friamente desprovido de qualquer emoção.
                - Consigo ouvir o teu coração acelerado daqui. O que te traz a nós? – Questiona Tony.
                - Quero falar com  o coronel.
                - O coronel está ocupado, vais ter a viagem toda para falares com ele.
                - Talvez não.
                Scott levantou o seu olhar perante a audácia do jovem Matt…
                - Deixa-o Tony, esperem todos lá fora…
                Os soldados saíram sem questionar deixando-o a sós com Matt. Sem grandes cerimónias Scott questionou-o…
                - O que passa tenente?
                - Algo permanece na minha mente como uma agulha que me atinge o entendimento, cada vez que me questiono pelo facto de vocês estarem vivos. Ao fim de todo este tempo.
                - Onde é que queres chegar? A Aliança gastou milhões a ensinar-me a sobreviver, talvez simplesmente tenham tido sucesso.
                - Quando foi a última vez que escutaste o bater do teu coração?
                Scott olhou-o atónito e confuso, não fazia ideia das intenções de Matt que se surpreendeu a si mesmo também…
                - Tu não fazias ideia pois não?
                - Ideia do quê?
                Matt aproximou-se de Scott colocando-lhe a mão sobre o peito.
                - Que a muito que o teu coração parou de bater.
                Scott desviou o seu olhar pensativo tentando remexer no seu passado, estava confuso com tudo aquilo que lhe fazia sentido de uma forma assustadora.
                - É impossível!
                - Depois de tudo aquilo que pessoas como nós viram, simplesmente recuso-me a acreditar em tal palavra. A minha pergunta agora é: quais são as vossas intenções?
                Scott permaneceu em silêncio observando o seu compartimento, tinha um pouco dele em cada canto. O seu coração estava dividido pela saudade de um mundo de uma família que se mantinha numa imagem turva e da vida que se mantinha presente, dos homens que o acompanhavam pela vida e pela morte, e pelo elo que havia superado a morte.
                - Vocês não têm nada a temer de mim e dos meus soldados, nós vamos partir com vocês, se a tua teoria for verdadeira, supostamente é este mundo que nos mantém vivos. Se o abandonarmos supostamente algo deverá também acontecer.
                - Está certo, não digo que confio naquilo em que te tornaste, mas confio no passado que deixaste para trás, naquilo que um dia foste. A tua família também confia.
                Matt remove do seu bolso uma fotografia que carregava o rosto da esposa de Scott, o filho e a filha. Scott comoveu-se de imediato ao reconhecê-los…
                - Eles cresceram tanto!
                - A tua mulher esteve no teu funeral, mas sempre acreditou que um dia voltarias a entrar pela porta de casa como se nada tivesse acontecido. No dia em que embarquei ela entregou-me essa foto, para que tivesses a fazer o que quer que fosse, largasses tudo e voltasses para os seus braços.
                As lágrimas desciam lentamente a face de Scott percorrendo a sua pela marcada como a corrente de um rio, o seu olhar vazio pronunciava o resto da sua humanidade e da vida que o mantinha vivo. Era um homem forte e destemido, cujo universo poderia ser abalado somente através do amor que se mantinha aceso numa vela quase extinta.
                Soaram os alarmes através da planície que ecoava como um som morto. Scott e Matt precipitaram-se para o exterior da tenda. No horizonte a marcha dos Arakuness persistia em que nenhum deles saísse vivo daquele planeta.
                Raines não se preocupou em preparar uma defesa, encaminhou todos para o Vaivém, ninguém mais iria morrer naquele lugar, este eram os seus planos. No entanto os Arakuness estavam determinados a cumprir o objectivo que tinham traçado. Scott avançou com os seus soldados atingindo a primeira frente que os alcançava dando algum tempo aos restantes que terminassem a evacuação. Quatro longos minutos foram suficientes para colocar todos a salvo na nave. Raines gritou para Scott que recuasse com os seus homens, não havia mais necessidade de se arriscarem, o mesmo olhando o hesitante concordou de seguida. Alcançaram a nave em segundos sendo seguidos por centenas que se transformavam em milhares. Dentro do vaivém dois Arakuness que conseguiram alcançá-los foram eliminados rapidamente por dois tiros de Matt que sorriu satisfeito por ter conseguido abater um extraterrestre na sua aventura no espaço. A nave começou a erguer-se do chão cobrindo o terreno de fumo e pó. Uma vez na cabine de armas os soldados não hesitaram em começar a esbanjar um mar de fogo sobre os Arakuness no terreno.
                Raines respirou fundo ao notar que estavam todos a salvo e que a missão teria sido cumprida com êxito, lentamente a nave alcançava a atmosfera. Matt despedia-se sobre a imagem do planeta vermelho que se afastava lentamente através de uma janela.
                Subitamente a sua atenção despertou para um fenómeno inesperado, mas no entanto aguardado sem que soubesse as consequências da sua natureza. Ao fundo num compartimento os soldados assustados teriam abandonado a sala em pânico permanecendo apenas Scott e os seus soldados. Matt percorreu o corredor passando por vários soldados que cruzavam com ele assustados.
                Ao entrar naquela sala Scott comunicava pelo rádio para que Raines interrompesse o voo, algo teria acontecido. Matt caminhava lentamente atónito ao que os seus olhos contemplavam, de uma forma assustadora e irreal. Scott permanecia como uma imagem projectada sobre uma parede, uma luz transparecia da sua imagem, não estava mais na condição de carne e osso, de um simples mortal. Os seus homens de igual modo eram como fantasmas sobre a forma humana. Observavam-no agora calmos e serenos.
                - Tinhas razão. – Comentava Scott…
                - O que tencionas fazer agora?
                - Não podemos deixar este mundo, apenas existimos nele.
                - Farei com existam sempre nas nossas memórias, por tudo o que fizeram e pelo sacrifício que tomaram. Lamento que termine assim.
                - Não te preocupes, vamos ficar bem. Diz a minha família que os amo muito. Que sempre irei visita-los nos seus sonhos.
                - Assim farei. Obrigado por tudo Scott.
                A nave permaneceu sobrevoando o planeta, Scott deu instrução que um dos portões fosse aberto. Os trinta soldados mergulharam em queda livre flutuando sobre o céu como sóis que se desprendiam como estrelas cadentes de um quadro pintado à mão. A determinada altura os corpos ganharam cor e vida e começaram a cair em velocidade sobre o campo de batalha. Scott soltou as suas armas e aterrou cortando um Arakuness ao meio. O vaivém proporcionou-lhe cobertura aérea e a elite de soldados mais uma vez derrubou os alienígenas em poucos minutos. Quando tudo terminou Scott ergueu o seu olhar para a nave e acenou em forma de despedida.
                A Nave desapareceu como uma luz que se extinguia no infinito do espaço. Scott trocou um olhar por todos os guerreiros. Mantinham-se frios e sobre controlo como as máquinas que tinham sido ensinados a ser.
                - Lamento mas não vou conseguir manter a minha promessa. Nós nunca sairemos deste lugar. Esta é a nossa maldição.
Na linha do horizonte emergia um exército de duzentos soldados, o sargento Hank vinha na frente aproximando-se deles.
                - Sargento Hank apresentasse ao seu serviço coronel. Ensine-nos a matar Arakuness e o seguiremos para onde quer que nos leve.
                - Creio que existe um motivo muito maior que a teoria de um planeta amaldiçoado para estarmos vivos. Nenhum de nós voltará a ver a Terra, no entanto no que depender de nós nenhum Arakuness a verá também. Não seremos mais heróis perdidos na nossa sombra. De hoje em diante seremos a Legião dos mortos. Que a nossa lenda nos siga até aos confins do tempo.
                - Os soldados assentiram em concordância. Iriam manter os Arakuness entretidos por um tempo indeterminado.
                Entretanto Matt estava de novo entregue aos silêncio das estrelas. Ia a caminho de casa, da sua namorada e dos seus pais que o aguardavam do jeito que o viram partir. No entanto ele voltaria mudado. Tudo o que tinha sentido e presenciado tinham-no transformado e parte daquela energia tinha regressado com ele. Desejava sobre todas as coisas que Scott e os seus homens encontrassem a paz que os permitisse encontrar o descanso eterno. Não imaginava que os seus caminhos poderiam se cruzar novamente um dia, mas o propósito de Scott, era maior que a vida e a morte, que o possível e o impossível, e o descanso que Matt lhe teria desejado estava decididamente fora dos seus planos.



3 comentários:

  1. Cara, esse post é de levantar um defunto, e eu quase não li, mas fui me envolvendo, tô cansadíssima, mas valeu por me "ligar*...agora durmo, em paz!
    Beiju Mery*))

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  2. Olá! Obrigado por me brindar mais uma vez com a sua presença! Espero que não tenha sonhado com o conto, rsrs! Beijos :)

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  3. Tem um pouco da magia do Espírito Selvagem nesse conto. Gostei bastante!

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