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terça-feira, 7 de maio de 2013

Sonhos de Papel

            Porque cantam os pássaros? Mesmo quando entre grades e correntes, privados da grandeza de um céu azul, de uma terra que se encolhe em casa bracejo que dão rumo as estrelas. Rumo, aquele horizonte onde o meu coração se perde, onde os sonhos se desfazem e a saudade se entristece.
Porque cantam os pássaros, enquanto os homens desfalecem sobre a incerteza do destino, das conquistas impossíveis, dos momentos perdidos.
            A natureza sempre me foi difícil de decifrar, o modo como se transforma, a ordem de todas as coisas que abrange, a sua irreverência, o seu poder e o seu domínio oculto e absoluto sobre um mundo de homens iludidos.
            Desde criança, sempre sonhei com coisas impossíveis, acreditava que se desejasse muito determinada coisa, a mesma viria ao meu encontro, como um destino traçado numa linha reta. Sonhava, com aquele barco que me conduziria pelo oceano aos confins da terra, sonhava com os pássaros, carregando-me sobre as nuvens, embalando me nas suas melodias. Sonhava com o meu pai, com todas as boas memórias, todas as preciosas recordações que conservo do homem que um dia foi, sonhava um dia vê-lo entrar por aquela porta marcada por um verniz velho, gasto pelo sol de várias gerações, que encolhia naturalmente a cada ano que eu ia crescendo.
            Mas o tempo mata a esperança e a inocência. O destino transforma-se numa palavra desprovida de sentido, aprendemos com os erros, com as nossas ilusões e fantasias. O tempo, esse revelou-me a realidade do mundo, do universo e de todas as coisas. Não existe um destino, existe apenas três conceitos que definem “o destino”. Escolhas, oportunidades e um pouco de sorte. O meu pai nunca retornou a casa, foi enterrado nas areias de um continente quente e longínquo. No meu coração ele morreu com as memórias e os sonhos de uma criança, que aguardava apenas o conhecimento do tempo, para entender a vida.
            É curioso o modo como o mundo se transforma com o tempo, recuamos por vezes no mesmo tempo analisando as evidências de tal forma que a maior mudança passa despercebida, o mundo por si mesmo não muda. Mudam os homens, mudamos nós. As feridas cicatrizam, os sonhos se transformam e as memórias se perdem.
            Embalo o meu pequeno filho nos braços, sabendo que o seu destino não está nas minhas mãos, na segurança dos meus braços, na consistência dos meus conselhos, na inequívoca certeza das minhas palavras.
            Encontro um incompreensível consolo no seu sorriso, na inocência da sua alegria sincera. A minha maior fraqueza e ao mesmo tempo a minha maior força e exemplo enquanto ser humano. Ali, residindo num ser de palmo e meio. Comprovando que até o mais pequeno dos seres consegue ser maior que o universo para alguém.
            Observo-o esbracejando os seus pequenos braços, sobre o calor do sol, tentando segurar entre os seus pequenos dedos aquela bola gigante de luz. Pequenos gracejos, sons rebeldes que desafiam o mundo ao seu redor.
            E o tempo corre, movendo-se na sombra das estações, na ilusão do renovo, de uma primavera que faz renascer a natureza, que em cada nova vida que dá, leva um pouco da vida dos homens. Pintamos um quadro, uma obra de arte, definimos a nossa vida entre os contornos da tinta, das sombras, das cores. Mas a ironia de um falso controlo, da ilusão de um plano, escreve uma nova história todos os dias. O homem, não consegue controlar o tempo, controlar a vida e a morte, um homem não decide a felicidade e o conforto da sua vida. Tão pouco não define o destino deste mundo que nos é passageiro. É movido pela incerteza, pelo acaso, pela sorte e por certas vezes por uma irrepreensível força de vontade, alimentada pela virtude dos seus sonhos.
            A criança cresce, a alma floresce, estabelece confiança, a ideia de um pequeno reflexo meu desvanece com os anos que o alimentam e o edificam nos percalços da vida, em todas as suas curvas e contornos que definem o seu carácter.
            O cansaço me assoma, nos ossos, na carne, no modo como tolero o mundo e as suas contantes mudanças. O que pintei no meu quadro? Onde estão os meus sonhos de papel que ganham vida entre as cores e as sombras da ilusão? Onde estão as histórias que terminam sempre da mesma forma nos livros? Sentado num banco de madeira observo as flores de um jardim, o perfume das rosas permanece, e então por detrás desta pintura, oiço os pássaros. Porque cantam os pássaros? A pergunta permanece, os homens mudam constantemente enquanto o mundo morre lentamente, segundo a segundo… Mas, porque cantam os pássaros?
            O branco das cortinas entrega-me a um quadro em branco, não existem mais curvas, caminhos, desvios ou dúvidas, o tempo esclarece todas as coisas, mas antes, ele destrói-nos lentamente, pedaço por pedaço, sonho por sonho.
            Sinto-me fraco, observo o olhar envelhecido do meu filho, cabelo grisalho, pele enrugada e o peso do mundo sobre os ombros. Tento recordar uma vida de encontros, histórias repletas de aventuras, mas o homem diante de mim, é um estranho como qualquer outro homem. Vidas diferentes, caminhos próprios, um tempo que esquece todas as coisas. No entanto noto sinceridade no seu olhar, arrependimento, vontade de concertar esse tempo, fazer com que alguns momentos perdurassem, e nunca nos fossem roubados. Ele sorri, como que aceitando, sinto-me em paz, pronto para a minha viagem, pronto para o final de todos os mistérios, desta curta passagem pelo mundo.
As cortinas desfalecem lentamente sinto a brisa do mar recortando os cabelos esbranquiçados que baloiçam juntamente com as ondas do mar.
            Os pássaros voam em silêncio, dançam por entre as estrelas, guiam-me pelas correntes do rio, que me carrega nos seus braços e me adormece na serenidade das cores. Ao fundo, o meu mundo se encolhe no horizonte.

Joel Flor

sábado, 3 de novembro de 2012

O som da vida - Parte II


             Alice estava um tanto inquieta no final daquela tarde de Outono, teria discutido com a sua mãe a respeito de uma festa que pretendia ir durante todos os dias daquela semana. Lutava irremediavelmente contra a sua vontade que a proibia de sair de casa, “Tens dezasseis anos, não vais a lado nenhum!” Aquelas palavras da sua mãe fluíam como um eco imortal na sua cabeça, como uma cassete que virara vezes e vezes espezinhando a sua consciência.
Geralmente os confrontos com a sua mãe eram conversas curtas, mas aquela era a festa da sua vida, o rapaz de quem gostava iria lá estar, ela tinha a certeza de que se não fosse, o perderia para sempre. Acreditava que o seu destino estava traçado, e a escolha dos seus passos independentemente da idade que tivesse eram seus para serem escolhidos quando bem entendesse, ninguém tinha o direito de lhe roubar os sonhos.
Teria garantido à sua amiga Jessica que estaria à porta da sua casa as 21 horas daquele dia, mesmo que o céu desabasse sobre a sua cabeça, e aquela promessa não iria quebrar por nada deste mundo.
O sol desaparecendo lentamente por cima do telhado dos seus vizinhos apenas aumentava o seu nervosismo, penteou os seus longos cabelos loiros, vestiu um vestido vermelho e lentamente pintava os seus lábios com um batom da mesma cor. Aquele gesto adulto ainda lhe era estranho, lentamente ia conhecendo uma nova figura diante do espelho, a ideia de parecer cinco anos mais velha agradava-a bastante. A porta abriu-se de rompante, a mãe observava-a de semblante fechado, apesar do incómodo ela tentou permanecer indiferente…
- É assim que vai ser então?
- Não sou mais uma criança, todas as minhas amigas saem quando querem e não dão satisfações a ninguém. Acho que estas a viver no século errado. Não vou mais desperdiçar esta fase da minha vida por causa das tuas ideias.
- Muito bem, no entanto a algo que deves saber sobre essa vida que julgas conhecer tão bem. Decisões de peso têm as suas consequências, tiveste toda a tua vida quem as assumisse por ti. Se saíres por aquela porta hoje, não voltes a entrar, nunca mais.
Alice estremeceu perante a dureza das palavras que ouvia, mas manteve-se fiel à sua promessa, assim que a sua mãe saiu do quarto tentou focar-se apenas na festa, o demais haveria de decidir mais tarde quando fosse oportuno.
Andava de um lado para o outro dentro daquelas quatro paredes, os minutos passavam lentamente, a noite teria consumido a luz do sol por detrás daquela janela do seu quarto, não suportava mais aquele nervosismo e optou por sair uns minutos mais cedo. A sua mãe estava no seu quarto, a televisão da sala transmitia um recital infantil no entanto não tinha telespectadores à exceção do gato Matias que bocejava entediado, deitado no sofá. Cruzou aquele corredor esperando ouvir um grito a qualquer momento mas tal não aconteceu. Assim que colocou os pés fora de casa e a porta se fechou por trás. Os nervos acalmaram, suspirou fundo e seguiu por aquela rua silenciosa.
Um grupo de bêbados passou por ela com alguns gracejos, era uma novidade ser mulher, ignorou-os e acelerou o passo, a casa de Jéssica ficava a pouco mais do que quinhentos metros, a rua era agora mais isolada, teria passado por ela durante anos à luz do dia, no entanto naquela noite parecia outro lugar. Ouviu um ruído estranho, quando se preparava para voltar um braço forte prendeu-a de costas enquanto a outra mão tapava-lhe a boca, tentou-se debater inutilmente mas perdia os sentidos lentamente, um lenço na sua boca obrigava-a a respirar algo que a faria adormecer. Sentiu um pavor enorme, perdeu as forças e mergulhou inconsciente nos braços daquele estranho.
Algumas horas mais tarde despertou na traseira de uma carrinha de caixa, uma pequena janela iluminava aquele compartimento, com a luz do sol que ia se erguendo no horizonte. Do outro lado da estrada um carro da polícia cruzou com a carrinha mas seguiu o seu caminho. Sentiu vontade de gritar por auxílio mas não tinha forças, estava apavorada, e uma tentativa infrutífera poderia provocar a sua morte, então encolheu-se sobre uma coberta, tremendo e chorando, a única pessoa em quem conseguia pensar era na sua mãe. 

A polícia iniciou as buscas na manhã seguinte quando a mãe de Alice ligou à Jéssica e a mesma respondeu que a Alice nunca teria aparecido. Era uma cidade pequena, o acontecimento gerou um impacto profundo, ao fim de uma semana as buscas não produziram qualquer resultado ou pista. A Alice poderia estar em qualquer lugar agora.
Estavam em março de 2002, foi finalmente em novembro do mesmo ano que encontraram a cena do crime, uma cave funda por de trás de uma quinta, um passante teria visto um homem descarregar um corpo embrulhado numa manta. No dia anterior uma jovem de dezanove anos teria sido dada como desaparecida. Pela altura que as autoridades chegaram ao local foi tarde demais para lhe salvar a vida. Sandro Valêncio de quarenta e dois anos de idade foi detido e julgado pelo homicídio qualificado de vinte e duas mulheres, apenas o corpo da última mulher foi encontrado, no entanto através de análises de ADN conseguiram identificar a passagem de Alice por aquele lugar. Confessando o assassino também a sua morte.
 

A parte final da história era redigida pela criança, tendo Alice conhecimento apenas da forma brutal como teria sido assassinada. Sentou-se lentamente sobre a calçada, por mais frustrante que fosse, as respostas não traziam soluções no seu caso.
- Chamo-me Alice!
- Sim, esse foi o teu nome um dia, e esta a tua história.
- Quantos anos passaram?
- Passaram seis anos, por isso é que não conseguiram ajudar-te na esquadra. O processo foi arquivado quando o assassino confessou. Ninguém anda á tua procura há muito tempo.
- Não entendo, o que devo eu fazer?
- No coração dos homens todos os caminhos são evidentes, quando são corrompidos pela natureza humana, começam logo a surtir as dúvidas. Tu sabes o que tens de fazer, segue o caminho que te trouxe de volta este mundo.
- Mas…
A pergunta sucumbiu perante a luz que abraçava o seu entendimento, a criança desapareceu deixando-a novamente. Ela sabia que o tempo era limitado, que o privilégio que lhe tinham concedido teria de servir o seu propósito, e naquele momento ela sabia exatamente o que tinha de fazer. Teria de se reconciliar com a sua mãe, para que as duas seguissem os diferentes caminhos em paz.
Caminhou durante horas por aquela estrada longa, vendo o sol iluminar o seu caminho lentamente, começou a reconhecer bairros, lojas, e pouco a pouco algumas pessoas que não notavam a sua presença. Sentia-se como um fantasma vagueando o seu universo perdido, passou pela porta da Jéssica, teria agora vinte e três anos, talvez ainda morasse com os pais, quem sabe teria encontrado a sua cara-metade naquela noite e estivesse agora casada, a vida segue milhões de destinos quando temos imaginação para nos perdermos divagando diversos sentidos.
Ao fundo da rua a porta da sua casa desenhava todas as recordações da sua infância. Aproximou-se lentamente, a cidade dormia, eram seis horas da manhã, susteve o passo diante da sua porta. Procurou o vaso onde a sua mãe sempre escondia uma chave suplente e notou que os velhos hábitos mantinham-se vivos. Abriu lentamente a porta e entrou, o velho gato Matias que não gostava de estranhos reconheceu-a de imediata esfregando-se nos seus pés, acariciou-o e seguiu pelo corredor. A porta do quarto estava entreaberta, antes que avançasse denotou vários frascos de comprimidos, antidepressivos, comprimidos para dormir. O cenário evidente revelava que os últimos anos não teriam sido fáceis.
Abriu lentamente a porta deixando um pequeno rastro de luz iluminar a escuridão do interior. A sua mãe estava deitada por debaixo de um lençol, dormia profundamente, todos os cantos da casa mostravam falta de asseio, percebeu que as limpezas não eram tão frequentes como antigamente. Certamente continuava solteira desde o falecimento do seu pai e os cuidados pessoais teriam perdido a sua prioridade, como mulher e como ser humano.
Sentou-se lentamente sobre a cama com medo de acordar, apesar do efeito dos comprimidos ser forte. Acariciou-lhe lentamente o cabelo que começava a ficar grisalho, talvez já fosse antes no entanto agora não se dava ao trabalho de o disfarçar.
A voz daquele ser que a acompanhava ocasionalmente sobre a forma humana, pronunciou-se ao seu ouvido…
- Fala o que tens de falar, ela vai ouvir e tudo produzirá o devido efeito.
Alice comoveu-se antes que as palavras saíssem, as lágrimas caiam lentamente pelo seu rosto…
- Mãe, eu sei que me consegues ouvir, estou aqui porque quero que saibas que lamento muito tudo o que aconteceu. Lamento ter sido tão egoísta, lamento não te ter apoiado quando o pai partiu, lamento não ter-te abraçado todas as vezes que te vi chorar. Perdoa-me por ter-te deixado naquele dia, a vida ensina-nos através dos nossos erros, mas nem todos tem uma segunda oportunidade para se redimirem. Tu tens a oportunidade de uma nova vida, algo que eu já não tenho. Não desperdices a vida, sobrevivendo presa ao passado. Agarra os dias vindouros com as duas mãos. Luta pela tua felicidade, por mim e por ti, para que eu possa partir em paz, sabendo que haverá apenas saudade e não remorsos. Perdoa-me por tudo, para que eu possa também, perdoar-me a mim mesma.
Abraçou aquele corpo quente, mesmo dormindo as lágrimas caiam do rosto daquela mulher. Alice sentiu-se leve, a sua missão no mundo estaria cumprida, era tempo de regressar. Levantou-se lentamente e seguiu o seu caminho. Passando por um espelho observou-se de relance por um momento, não se tinha apercebido até aquele momento que tinha envelhecido como se tivesse a idade que teria viva.
Lá fora um homem de boa aparência observava-a, tranquilo como se a conhecesse, e logo ela entendeu que a morte a aguardava numa nova forma. Aproximou-se dele…
- Chegou a hora de regressarmos.
- Então a minha missão está cumprida?
- Sim. – O homem observava-a sabendo que a pergunta transmitia alguma falta de convicção, estava em paz, mas continuava triste.
- O assassino é o único homem que sabe que morri, mesmo que tenha confessado, o meu corpo nunca foi encontrado.
- Sabia! Ele morreu há dois anos atrás, assassinado numa prisão. Até os presos tem mães, filhas e irmãs. Um homem como aquele não seria bem aceite em lado nenhum. Foi encontrado morto na sua cela. A justiça sempre chega a todos.
- Então ninguém vivo pode afirmar que realmente eu fui assassinada, amostras de sangue não provam nada.
- Onde é que queres chegar?
- Eu queria uma segunda oportunidade!
- Já a tiveste!
- A minha mãe precisa de mim.
- Todos precisam de alguém, mas o mundo não é perfeito.
- Tu observas a humanidade desde o princípio dos tempos. Tem um pouco de fé em nós, eu sei que podes fazer algo por nós, podes dar-nos algo em que acreditar.
- Isso ultrapassa-me, sou apenas um guia.
- Por favor!
- Consegues ouvir este som, esta melodia? É o som do silêncio, do fim. Eu chamo-lhe “A Melodia do silêncio”, é como um consolo divino que sentimos quando deixamos este mundo em paz, o som não significa o fim, significa que está livre, perdes o mundo mas ganhas o universo. O som está a chamar por ti.
A Alice aproximou-se do homem segurando-lhe na mão, colocou sobre o seu peito, junto ao seu coração. Consegues ouvir este som? O seu ritmo, que pulsa e estremece o nosso ser? Este é “O som da vida”. Eu escolho a vida, deixa-me viver!
O homem observou-a durante alguns momentos, lentamente esboçou o seu primeiro sorriso durante aquele percurso e partiu. A Alice manteve-se atónita durante alguns momentos, contemplou aquele mundo ao seu redor, como se pela primeira vez ele lhe pertencesse. Entrou d1entro de casa novamente, dirigiu-se ao seu velho quarto. Permanecia intacto. O frasco de batom continuava aberto em cima da sua mesa. A janela do seu quarto pintava o mesmo quadro que conhecera toda a sua vida. Deitou-se lentamente sobre a sua cama encolhendo-se sobre os cobertores, perdida entre uma exaustão que teria sido combatida até momentos atrás pela adrenalina. Cedeu e adormeceu num sono profundo.
 

Na primeira página de todos os jornais nacionais uma notícia pulsava em destaque: “Jovem desaparecida aparece ao fim de seis anos.” O mundo alegrava-se na felicidade de uma mãe, por momentos esquecia-se dos seus problemas, da sua vaidade, da sua ignorância, da sua intolerância, do seu egoísmo. Por momentos recordava o que era ser humano e viver cada dia em virtude de uma causa nobre, de um verdadeiro propósito.

 
 
 

Fim

 
(Joel Flor)

sábado, 16 de junho de 2012

A Queda da Estrela

           Maria viu com os seus próprios olhos esverdeados, a estrela que dançava por entre as demais na escuridão da noite como um pirilampo endiabrado querendo dar nas vistas.
Era uma daquelas noites quentes de verão em que o perfume do sol permanece na sua ausência. A estrela permanecia inquieta, escondia-se ocasionalmente entre as nuvens mas logo tornava a esbanjar a sua presença numa magia espontânea. Ela permaneceu indiferente até que notou algo estranho, aquela forma dançante de luz começou a crescer, ganhando proximidade e a sua presença não pode mais ser ignorada. Desceu como um relâmpago sobre os montes provocando um enorme clarão sobre vários quilómetros, como se o sol tivesse despertado por alguns segundos.
Incrédula, ela observa tudo ao seu redor mas estava só, não havia ninguém para partilhar aquela visão extraordinária e terrível. O seu coração batia forte e incansavelmente num ritmo que lhe cortava a respiração. A sua mente estava dispersa, perdida, entre a incredulidade e o raciocínio. Então correu ao encalço daquela luz que começava a se apagar entre os montes, se encolhendo sobre a escuridão. Alcançou-a depois de uma corrida interminável, mas susteve-se quando sobre a terra, sobre um círculo de fogo, um anjo chorava a sua queda.


                                                                                                                       (Joel Flor)

domingo, 14 de agosto de 2011

Sorteio do Livro "Espírito Selvagem"

         No intuito de expandir os temas deste blog e de interargir um pouco com os leitores que por aqui passam, decidi organizar um pequeno evento que espero desde já que vos venha a interessar e acima de tudo que participem.
         Cabe a cada um num pequeno texto descrever a memória mais antiga que possuí. Para tornar o evento mais apelativo haverá um sorteio do Livro "Espírito Selvagem", tomando nota que o mesmo será enviado para qualquer lugar do mundo tendo em conta que tenho seguidores em diferentes continentes. A ùnica regra è que sejam seguidores deste blog e que os textos sejam de suas autorias. Com o primeiro comentário descrevo o meu exemplo.

Recordo-me de ver o meu irmão mais novo recém-nascido nos braços da minha mãe embrulhado numa manta, lembro-me de um casal de idosos na sala da minha antiga casa que tinha chegado para dar as boas-vindas aquela pequena criatura. Lembro-me de ouvir as vozes como um reflexo quase extinto, um som destorcido sobre um eco fraco. Da luz fraca que invadia a sala com a força suficiente apenas para definir os traços dos rostos e os cantos da casa. Recordo-me da minha pequena estatura em que o tecto da sala se encontrava distante do meu alcance e as pessoas pareciam pequenos gigantes ao meu redor observando-me das alturas. Agora que transformei a minha mais antiga memória em letras, estou certo que a mesma jamais cairá no esquecimento, perdurará até aos confins do tempo.
Joel Flor

sexta-feira, 25 de março de 2011

Vida


Vida, guia-me nos teus caminhos

Aquece-me no sol dos teus encantos

E conforta-me na ausência da tua luz

Sustém-me nos balanços do teu barco

Encoraja-me perante as ondas do teu mar

Guarda-me do fogo que queima a alma

Do frio que consome a esperança

Solidifica-me no amor e nos seus encantos

Na primavera do tempo

Que sobre terra seca gera as suas flores

Vida, não me afastes daqueles que amo

Edifica um castelo com os seus nomes

E por mais que o tempo me açoite

Por mais que as memórias me alimentem

Nunca me tires os meus sonhos

Joel Flor

25-3-11

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Eternamente

Segura na minha mão
Deixa o vento soprar
Caminha em frente
Que eu não vou te soltar
Por cima de um rio
Sobre as nuvens, sobre o céu
Não existe vento frio
Que afaste esse calor teu
Aguarda-me, na noite antes de ires dormir
Á porta de casa, eu espero ver-te sorrir
Prometo que eu não irei me demorar
Pois Eternamente, vivo para te encontrar
Na vida o que me sustém
E esse teu doce olhar
Sei que não há mais ninguém
Que preencha o teu lugar
Quando eu estou fraco
E sem vontade de lutar
Em ti eu encontro força
E asas para voar
Aguarda-me, na noite antes de ires dormir
Á porta de casa, eu espero ver-te sorrir
Prometo que eu não irei me demorar
Pois Eternamente, vivo para te encontrar

Letra e melodia de Joel Flor
23/01/2007

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Natureza


Até mesmo os seres mais pequenos deste mundo
Sabem apreciar a Natureza em toda a sua magnitude,
Em toda a sua força, todo o seu vigor.
Nessa magia contagiante que nos fascina e nunca envelhece...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Definição do Amor


Definição do Amor

Eu defino o amor como um laço indestrutível,
Como uma fonte de energia viva.
Um vulcão em constante erupção, que não arrefece nem quando envolto
no mais frio dos invernos.
Como uma luz resplandescente, como uma força invisível.
Como o inexplicável toque da chuva sobre a mais delicada das peles.
Eu vejo o amor como o sol que nos aquece a manhã, que nos dá vida
Que ao fim do dia pela sua ausência nos conforta com as suas estrelas.
A esperança no amor é a única certeza de que estamos vivos,
Que não somos almas perdidas, esquecidas à deriva de um destino sem rumo.
Eu reconheço o amor numa mãe que carrega um filho nove meses,
E depois desse tempo ainda partilha a sua dor.
Num homem que ao fim de sessenta anos numa vida a dois,
Sorri para a sua esposa enrrugada com o peso de uma vida aos ombros e lhe diz,
És a mulher mais linda do mundo.
Quando todas as árvores caírem, quando todos os oceanos secarem,
Quando todos os campos arderem e no mundo permanecer apenas o silêncio,
Por entre as cinzas e a escuridão o amor permanecerá, vivo e eterno.


Por Joel Flor

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O Livro: "Espírito Selvagem"


Espírito Selvagem será um dos próximos lançamentos que espero concretizar, o livro relata a vida de um homem que perde a sua namorada num desastre de carro, mas no seu subconsciente a sua mente dá-lhe uma segunda oportunidade.
Preso num estado vegetativo dentro de um hospital maniaco-depressivo ele vive uma segunda vida dentro da sua mente um ciclo que um médico psiquiatra tenta quebrar, interagindo no seu mundo. Por fim acaba por vir a conhecer o homem brilhante que o paciente poderia ter sido e a vida maravilhosa que o prende tão dramáticamente ao seu mundo...